Chikungunya na Itália, dengue na Côte d’Azur… A Europa deve se preparar para epidemias até então reservadas às regiões tropicais, alertam pesquisadores, embora o ritmo e a extensão desta expansão permaneçam difíceis de se prever.

“Encorajados pelas mudanças climáticas, viagens e comércio internacional, as epidemias de doenças vetoriais (transmitidas por insetos, como mosquitos ou carrapatos) vão se desenvolver para alcançar uma grande parte da Europa nas próximas décadas”, ressaltaram em um congresso em Amsterdã.

Todos os países do Mediterrâneo já estão preocupados, observa Giovanni Rezza, diretor do departamento de doenças infecciosas do Instituto Superior de Saúde de Roma, entrevistado pela AFP.

O evento recente mais preocupante foi a epidemia de chikungunya que atingiu a Itália no verão de 2017, com “mais de 400 casos” e “falha no diagnóstico precoce”, já que a doença só foi identificada pelo governo depois de várias semanas, favorecendo a infecção de novas pessoas, ressaltou o pesquisador.

Esta tarefa de identificação precoce é ainda mais importante na Itália uma vez que o mosquito tigre (Aedes albopictus), transmissor da dengue e chikungunya, agora é endêmico em grande parte do país.

Daí a necessidade de uma maior vigilância onde o fenômeno é ainda limitado, como na França, com a Côté d’Azur, onde vários casos de dengue foram notificados desde 2014, insiste Rezza, que apresentou suas conclusões sobre estes episódios recentes no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, que está sendo realizado em Amsterdã até terça-feira.

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“Felizmente, Itália, Espanha, sul da França, costa da Croácia e Grécia são atualmente zonas tropicais apenas a tempo parcial: os invernos são frios o suficiente para que a transmissão seja interrompida.

– Sistema de alerta precoce –

Mas, à medida que os períodos de alta temperatura se prolongam, esta “janela” durante a qual essas doenças podem se espalhar vai se ampliar, favorecendo surtos de maior importância, avisa Giovanni Rezza, ressaltando que esta é uma “mudança de médio e não curto prazo”.

O trabalho apresentado por Jan Semenza, do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (CEPC), a agência europeia com sede em Estocolmo, também mostram uma extensão do território dos carrapatos, responsáveis por algumas encefalites virais e pela doença de Lyme.

“Estamos vendo uma expansão de carrapatos causada por temperaturas mais altas. Eles estão avançando para o norte e em altitudes mais elevadas”, disse à AFP.

Da mesma forma, moscas de areia ou flebotomíneos, principal vetor da leishmaniose, uma doença parasitária, poderiam encontrar condições climáticas favoráveis na França, na Alemanha e no sul do Reino Unido até 2060.

Diante desse fenômeno, “as agências de saúde pública precisam melhorar a vigilância, por exemplo, por meio de sistemas de aviso prévio, conscientizar os profissionais de saúde e o público em geral sobre os riscos, bem como adotar estratégias inovadoras de controle, como ações comunitárias” contra a proliferação de mosquitos, ressalta o professor Semenza.

O CEPC ajuda os governos na “modelagem em tempo real dos locais onde as condições climáticas são favoráveis à transmissão, a fim de aumentar nossa atenção e sistema de monitoramento nessas áreas”, explica.

O centro europeu desenvolveu uma ferramenta que monitora a temperatura e teor de sal da água do mar, ilustrado por um mapa (https://e3geoportal.ecdc.europa.eu/SitePages/Vibrio%20Map%20Viewer.aspx ). Este último permite identificar as praias mais expostas à presença de bactérias da família vibrio, responsável por desordens intestinais em humanos.


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