A classe política americana é muito cética quanto à possibilidade de que Donald Trump mude de rumo em relação ao Irã, visto que os assessores da Casa Branca vêm pressionando o presidente há muito tempo para que mantenha uma linha dura que paralise o regime.

O presidente, que já surpreendeu o mundo ao se reunir com o líder da Coreia do Norte, pareceu aberto à ideia de seu colega francês, Emmanuel Macron, que lhe propôs na segunda-feira um encontro com o presidente iraniano, Hassan Rohani, nas próximas semanas.

Respondendo a uma sugestão de Macron, anfitrião da cúpula do G7 em Biarritz, Trump disse que o Irã “pode precisar de algum dinheiro para superar um momento difícil”. Estes recursos poderiam se dar na forma de uma linha de crédito.

A ideia é parte de um esforço liderado pela França para manter vivo o acordo nuclear de 2015, em virtude do qual o Irã reduziu drasticamente seu desenvolvimento de armas deste tipo. O pacto foi negociado durante a gestão do então presidente Barack Obama e descartado por Trump.

A diretora da Iniciativa do Futuro do Irã no think tank Atlantic Council, Barbara Slavin, considera que Macron tentou, provavelmente, ganhar tempo e manter o Irã no acordo, lembrando ainda que Trump pode não estar no cargo após as eleições de 2020.

O Irã minimizou a possibilidade de uma cúpula: Rohani disse que os Estados Unidos devem primeiro suspender todas as sanções, as quais prejudicaram gravemente uma economia que disparou após o acordo nuclear.

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– Assessores contra –

Slavin duvida de que Trump ponha fim às sanções, ou mesmo que faça uma cúpula. Se acontecer, o cenário mais provável é um encontro em paralelo à Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro próximo.

“Rohani não se reuniu com Obama, que negociou o acordo. Tudo o que Obama conseguiu foi uma conversa por telefone com Rohani. Nem mesmo se deram um aperto de mãos à margem da Assembleia Geral da ONU”, disse Slavin.

“Trump puniu o Irã mais do que qualquer outro presidente na história dos Estados Unidos por cumprir um acordo internacional! Então, por que Rohani recompensaria Trump com essa foto (de um encontro)?”, questionou.

Diferentemente da Coreia do Norte, onde Kim Jong-un tirou alguma vantagem por ter-se reunido com Trump, os Estados Unidos se tornaram um tema tóxico para os políticos iranianos desde a Revolução Islâmica de 1979 que derrubou o xá e seu regime de orientação ocidental.

Qualquer alívio de sanções enfrentaria uma forte resistência por parte dos assessores presidenciais americanos, liderados pelo conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton. Antes de ser nomeado para o cargo, ele havia defendido um ataque ao Irã e a derrocada do regime.

“A ideia de que o Irã receba algum benefício econômico tangível simplesmente por deixar de fazer coisas que não deveria estar fazendo em primeiro lugar não é um ponto de partida”, disse Bolton à Rádio Free Europe na terça-feira.

Aliado de Arábia Saudita e Israel, rivais do Irã, o governo Trump exigiu importantes mudanças de Teerã para além de seu programa nuclear, incluindo o fim do apoio a grupos da região, como os militantes do Hezbollah libanês e os rebeldes huthis do Iêmen.

– Uma ideia ‘totalmente estúpida’ –

Mark Dubowitz, diretor da Fundação para Defesa das Democracias, um think tank que defende a linha dura com o Irã, afirmou que uma cúpula mostraria que as sanções forçaram o regime a adotar o caminho da diplomacia.

Ele se manifestou contra, porém, à concessão da linha de crédito proposta por Macron. Segundo informes, o valor pode chegar a 15 bilhões de dólares para ajudar a estabilizar a economia do Irã.


“Esta é uma ideia totalmente estúpida. Aqueles que condenaram Obama em 2013-2015, com razão, por oferecer um prematuro alívio de sanções ao regime iraniano, em vez de aumentar a pressão, deveriam estar envolvidos em tudo isso”, tuitou.

Nikki Haley, ex-embaixadora de Trump nas Nações Unidas, criticou Macron por convidar o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, para a cúpula do G7.

Fazer isso foi um gesto “manipulador” do presidente francês e “muito pouco sincero”, tuitou junto com a hashtag #NotWhatFriendsDo” (“Não é o que os amigos fazem”, em tradução livre).

Já para Nicholas Burns, um veterano diplomata americano que agora é professor de Harvard, os esforços de Macron conseguiram pelo menos mudar a conversa.

Em junho, Trump autorizou um ataque contra o Irã em represália por sua derrubada de um drone espião americano. Cancelou a operação no último minuto.

“Macron tem razão ao tentar ajudar a abrir um canal entre Washington e Teerã”, tuitou Burns.

“Isso poderia lhes permitir passar do uso da força para a diplomacia”, completou.


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