A aprovação de uma polêmica lei de migração na França, apoiada pelo presidente Emmanuel Macron e pela extrema direita, provocou uma divisão importante na maioria governamental nesta quarta-feira (20).

Após 18 meses de negociações do projeto de lei, a Assembleia Nacional (câmara baixa do Parlamento) aprovou o texto na noite de terça-feira com 349 votos a favor e 186 contra. Os partidos Os Republicanos (LR, direita) e Reagrupamento Nacional (RN, extrema direita) apoiaram o texto. O Senado já havia votado previamente.

A votação mergulhou a maioria presidencial (composta por várias formações, além do partido Renascimento do presidente Macron) em uma crise, pois 59 de seus 251 deputados não votaram a favor do texto: 27 decidiram votar contra, e 32 se abstiveram.

Um elemento-chave da lei é que os subsídios sociais para estrangeiros não comunitários (ou seja, que não são cidadãos da União Europeia) estarão condicionados a partir de agora a uma presença mínima de cinco anos no território, ou de 30 meses, caso estejam empregados.

Além disso, também poderão ser estabelecidas cotas migratórias e incluídas medidas para que os condenados por homicídio com dupla nacionalidade possam perder a cidadania francesa.

O texto levou o ministro da Saúde, Aurélien Rousseau, a entregar uma carta de demissão à primeira-ministra, Élisabeth Borne, na noite de terça-feira, segundo uma fonte ministerial. No entanto, Borne assegurou nesta quarta-feira que Emmanuel Macron “não recebeu a demissão” do ministro.

Além de Rousseau, vários ministros rejeitaram o projeto, como Clément Beaune (Transportes) e Sylvie Retailleau (Ensino Superior), que foram recebidos na noite de terça pela primeira-ministra, segundo várias fontes governamentais.

Borne denunciou uma “manobra grotesca” da extrema direita para causar divisões.

– “Nenhuma crise” –

Em entrevista à rádio France Inter nesta quarta-feira, Borne negou uma “crise na maioria” presidencial e declarou que tem a “sensação de dever comprido” com a aprovação de uma lei “que respeita nossos valores”.

Ainda assim, admitiu que o texto, muito criticado pela esquerda e por ONGs, inclui algumas medidas que podem ser inconstitucionais e que provavelmente “evoluirá” após ser analisado pelo Conselho Constitucional.

Segundo ela, com esta lei, o governo busca “expulsar o mais rápido e de maneira mais eficaz possível aqueles que não têm direito de permanecer na França e integrar melhor os elegíveis ao acolhimento”.

Na noite desta quarta, Macron pronunciará um discurso transmitido pela televisão, anunciou a France Télévisions.

A condição de que estrangeiros irregulares não comunitários cumpram um período mínimo para acessar as prestações sociais representou um grande obstáculo nas negociações.

A direita exigia um prazo de cinco anos para o acesso a ajudas “não contributivas”, mas, no final, ficou decidido diferenciar empregados e desempregados.

Assim, desempregados que desejam subsídios para o aluguel, deverão estar na França há cinco anos. Se trabalharem, três meses serão suficientes.

Estas restrições não se aplicam a estudantes estrangeiros.

– “Uma vitória para a direita” –

A versão aprovada é mais restritiva do que a inicial, embora inclua a possibilidade de um trabalhador irregular solicitar a permissão de residência sem o aval de seu empregador.

O apoio de membros da extrema direita do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, irritou parte da maioria presidencial, e um ministro declarou à AFP que não estava confortável “em absoluto” com o voto favorável do RN.

Um deputado do Renascimento considerou o apoio como um “beijo de Judas” para a maioria presidencial.

O líder dos deputados socialistas, Boris Vallaud, considerou a aprovação uma “desonra para o governo” e, para o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, a lei “deforma a imagem da França”.

Já o presidente do conservador Os Republicanos, Eric Ciotti, expressou satisfação com “uma vitória para a direita”.

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