Faltam 100 dias para a cerimônia de abertura dos Jogos de Tóquio, em 23 de julho, e tudo indica que o evento será realizado, em meio à pandemia de Covid-19. A pressão comercial é grande, e os gastos na casa dos milhões ditam os decretos do Comitê Organizador e do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Cientes das restrições que os aguardam, os atletas se preparam para fazer história em uma Olimpíada sem cara de Olimpíada, com estruturas, despesas e quantidades de pessoas muito menores do que o habitual. Para muitos, o contexto pode coincidir com o ápice de suas performances. Por isso, não há o que lamentar, e sim aproveitar para tentar fazer história.

Campeão do Circuito Mundial de Surfe, o potiguar Ítalo Ferreira representará o país ao lado de Gabriel Medina, do outro lado do mundo. Pela primeira vez, o esporte foi incluído no maior evento multiesportivo do planeta, tornando a gana pela inédita medalha de ouro ainda maior. No caso do surfista, os pesos do título do WCT e da liderança no torneio nesta temporada dão uma energia extra ao seu sonho.

– Será um momento importante e histórico para o surfe, então, não tem como não ficar ansioso e animado, tudo ao mesmo tempo. Só se fala nisso, e eu estou bem feliz de fazer parte desse momento. Quero dar o meu melhor para trazer uma medalha para o nosso país. Até lá, vou focar nos torneios que tenho pela frente e isso me ajudará a segurar a ansiedade – conta Ítalo.

Outra que também fará história na delegação do Time Brasil é Yndiara Asp. Terceira melhor brasileira no ranking mundial de skate, na modalidade park, a catarinense ficou alguns meses afastada das pistas por conta de uma lesão no tornozelo esquerdo, sendo necessária até intervenção cirúrgica. Recuperada, ganhou um ânimo a mais essa semana, pois terminou a construção de uma pista particular, em sua casa. E o sonho olímpico segue em alta.

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– Na verdade, no ano passado, eu já passei por essa situação. E acabou não rolando. Então, esse período veio para me ensinar a ser mais presente, entender o aqui e agora e a controlar a ansiedade. Estou vivendo o agora e, quando eu estiver por lá, quero estar 100% presente para que seja uma experiência incrível. Que eu nunca esqueça dos momentos, que eu me supere e que eu dê o meu melhor para fazer história. Eu quero viver momentos incríveis. Depois, para que eu possa relembrar e me sentir orgulhosa e feliz por tudo o que eu vivi – comenta a skatista, que já embarca no começo da próxima semana aos EUA visando ao Dew Tour e pontos para subir na classificação internacional.

Já para Avancini, o evento terá um gosto especial. Em 2016, pôde competir na ‘terra natal’, contudo, o 23º lugar ficou aquém do esperado. De lá para cá, sua carreira mudou completamente. Tornou-se o primeiro brasileiro a ser campeão mundial, a vencer uma prova de Copa do Mundo e, de quebra, a liderar o ranking internacional da UCI. Nesse período, ainda celebra vários títulos nacionais, regionais e ações sociais, como o Pedaling for a Reason, que visa, ao lado da Semexe, ajudar projetos benevolentes, como o ‘Salvação para Amazônia’, em 2021.

– Esta temporada começou com algumas incertezas, mas, agora parece que o cenário esportivo no mountain bike tem um pouco mais de estabilidade. Já sabemos as competições até os Jogos, então, a partir do momento em que fizemos esse planejamento de preparação e competições, deu para sentir o gostinho dos Jogos. É um momento especial – afirma o ciclista, lembrando os altos e baixos devido à pandemia, que o impediu de realizar parte dos treinamentos na Europa.

O momento é de intensificar as cargas de treinamento dentro da realidade de cada esporte, desadio que motiva a nadadora Ana Marcela Cunha.

– Tenho cumprido à risca o planejamento de minha equipe técnica. Cada dia, cada semana, cada mês está sendo de evolução para chegarmos em Tóquio no melhor ponto de performance possível. Todos os detalhes estão sendo vistos e aprimorados com equilíbrio. O foco é total nesta reta final – explica Ana Marcela, eleita seis vezes pela Fina (Federação Internacional de Natação) como a melhor nadadora de águas abertas do mundo.

Estreante em Jogos Olímpicos, Milena Titoneli tem expectativas altas para Tóquio. Ela representará o Brasil na categoria até 67kg do taekwondo.

– Quero muito chegar nestes Jogos e fazer história, tanto para o meu esporte como para o meu país. É um sonho cada vez mais próximo de se tornar realidade e acredito que posso contribuir para a história do taekwondo brasileiro. Os 100 dias serão um período de muito foco e dedicação. É preciso manter o treinamento no mais alto nível possível, mas sempre nos cuidando para seguirmos a programação – afirmou Milena.

Ela e Ana Marcela, que fazem parte do Time Ajinomoto de incentivo ao esporte olímpico, também comentaram sobre as inéditas condições do evento.

– Será muito diferente do que sempre imaginei. Eu sonhava muito em ter minha família presente no Japão, mas infelizmente não será possível. Porém, acredito que a energia de uma Olimpíada continuará presente e será diferente de tudo que já vivenciei – diz Milena.

– Não penso em dificuldades específicas. Será uma prova duríssima, onde vários fatores vão contar: a preparação em curso, a estratégia de prova, a observação nas adversárias. Vamos com tudo em busca de uma medalha olímpica – avisa Ana Marcela Cunha.

A situação da Covid-19 preocupa o COB. Os dirigentes brasileiros consideram até mesmo não enviar a delegação para a cerimônia de abertura, devido à falta de informações que permitam uma avaliação das condições de segurança para os atletas.


– Nós não vamos expor os atletas e oficiais a uma situação que possamos identificar como sendo de risco – declarou Jorge Bichara, diretor de Esportes do COB, ao “O Globo”.

O Brasil já tem 200 atletas classificados para os Jogos de Tóquio.


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