Dois meses após deixar o comando da holding britânica WPP – um negócio que ele ajudou a fundar e que inclui agências poderosas como a Young & Rubicam e a Ogilvy – em meio a uma investigação de mau uso de recursos da companhia e de denúncias de maus tratos por funcionários, o executivo Martin Sorrell voltou na sexta-feira, 22, ao palco do Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade. E disparou contra os responsáveis pelas denúncias que lhe fizeram perder a posição de comando.

O executivo negou qualquer desvio de dinheiro da empresa. Sobre as reclamações de funcionários sobre seu comportamento – uma reportagem do Financial Times ouviu 25 colaboradores que relataram “abusos verbais” e tratamento “cruel”, afirmou: “Eu sou uma pessoa fácil de se lidar? Não. Eu sou exigente? Sim.”

O retorno ao palco de Cannes, justamente em um momento em que enfrenta críticas de todos os lados – incluindo extensas reportagens do FT, da The Economist e do Wall Street Journal -, tem uma razão econômica. Apenas seis semanas depois de empacotar seus pertences e deixar a cadeira de chefe da WPP após 33 anos, Sorrell anunciou uma nova aventura corporativa: a S4, que será estruturada com dinheiro do mercado financeiro e de fundos de private equity.

O negócio virá para concorrer com os grandes grupos de comunicação – entre eles WPP, Publicis, IGP, Havas e Dentsu. Em entrevista depois de ter descido do palco de Cannes Lions, onde foi entrevistado pelo jornalista e escritor americano Ken Auletta, Sorrell deu detalhes do que pretende fazer. Originalmente, Auletta seria entrevistado por Sorrell, mas ele decidiu inverter os papéis e fazer o entrevistador falar. “Vamos tirar o elefante da sala de estar”, propôs o jornalista, autor do livro Frenemies, sobre os atuais desafios do setor de publicidade.

Pretensões

Sorrell então revelou que a nova empresa tentará corrigir os erros que conglomerados como a WPP vinham cometendo – como falta de agilidade – e se concentrará nos meios digitais, que já respondem por 50% das receitas globais de publicidade. E adiantou que suas ambições são globais. A atuação em grandes países emergentes, como o Brasil, será uma das apostas.

“Os primeiros movimentos (da S4) serão multinacionais. A China é a segunda maior economia global. Eu acho um absurdo que ainda chamem esse país de nação em desenvolvimento”, frisou Sorrell. “O fato é que o próximo bilhão de consumidores do mundo não virá da Europa e dos Estados Unidos.”

Sorrell admitiu que construir um novo negócio pode não ser tão fácil. “Comparado a eles (WPP), eu sou um amendoim”, disse Sorrell, em resposta a questão de Auletta. “Mas tem gente que é alérgica a amendoim.”

A nova proposta de negócio do fundador da WPP, que tem despertado a atenção e também o receio de investidores americanos e europeus, se baseia em um conceito “mais flexível, rápido e barato” do que é oferecido pelos conglomerados de publicidade atualmente. Questionado, Sorrell não quis responder se acredita que as alegações contra ele podem ou não atrapalhar a fase de arrecadação de fundos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.