“Quase fiquei louco”, conta Mohamed, jovem líbio que viveu uma longa espera a bordo do “Open Arms” antes de desembarcar, nesta terça-feira, na ilha italiana de Lampedusa.

“Éramos uns cinquenta cozinhando como macarrão naquele barco. O motor parou o fomos resgatados pelo ‘Open Arms'”, contou Mohamed, 23 anos. “Depois disso, me isolei durante vários dias no fundo do navio”.

Na manhã de terça-feira, após uma inspeção da polícia judiciária com dois médicos, o promotor de Agrigento (Sicília), Luigi Patronaggio, decidiu que os resgatados deveriam ser desembarcados na pequena ilha siciliana, dada a situação tensa a bordo, apesar da informação de que o governo espanhol havia decidido enviar um navio militar para buscá-los.

A bordo do “Open Arms”, da ONG espanhola de mesmo nome, havia 147 migrantes quando chegou ao litoral italiano, que ficaram reduzidos a pouco mais de 80 após o desembarque de dezenas de menores de idade e doentes nos últimos dias.

O relatório do promotor descreveu os emigrantes em um “contexto emocional extremo […] entre a percepção da morte, no caso do retorno a seu país, e a esperança de uma nova vida, mesmo precisando se lançar ao mar e nadar até a ilha”.

Um contexto que tornava “impossível a avaliação dos riscos individuais e coletivos”, e que o convenceu a ordenar o desembarque e abrir uma investigação pelo sequestro de pessoas.

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Os emigrantes a bordo do “Open Arms” estão no centro de acolhida da pequena ilha.

Nesta quarta-feira, sob um forte calor, a polícia começou a verificar a identidade dos emigrantes, principalmente a dos africanos.

O centro de acolhimento abriga mais de 200 emigrantes, em dois prédios com capacidade para 96 pessoas, segundo um funcionário, que acredita na transferência de várias pessoas para outros centros na Sicília, Trapani ou Caltanissetta.

“Não é uma prisão”, destaca um dos guardas do centro, onde militares controlam o acesso.

O centro de Lampedusa, chamada de “a porta da Europa”, já chegou a abrigar até 600 emigrantes, mas parte dos prédios foi danificada por um incêndio provocado por alguns usuários.

Os emigrantes do “Open Arms” permaneceram no centro durante todo o dia, descansando de sua longa travessia.

Mohamed, que pagou 500 dólares para cruzar o Mediterrâneo, deseja ir “para qualquer lugar da Europa” para trabalhar, Sicília ou talvez a França, onde tem família.


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