Passados quase 40 dias do fim da Olimpíada do Rio, a apreensão quanto ao próximo ciclo olímpico já se manifesta entre atletas medalhistas do Brasil. A recente troca de comando no governo federal, que deixa em suspenso a continuidade dos programas de apoio a esportistas, e a falta de perspectiva de uma recuperação significativa da economia, o que põe em risco os patrocínios privados, são dois motivos que os levam a crer que o suporte dado aos Jogos do Rio poderá não se repetir em Tóquio-2020.

Dez esportistas patrocinados pela Petrobras foram recebidos nesta quinta-feira pelo presidente da estatal, Pedro Parente, e ouviram palavras de agradecimento e incentivo – mas não uma promessa de que os recursos para eles e suas confederações perdurarão para o próximo ciclo. Parente declarou apenas que existe a intenção de mantê-los, apesar das dificuldades que a Petrobras vive desde 2014, na esteira da crise do petróleo e das investigações da Operação Lava Jato sobre um grande esquema de corrupção envolvendo a petroleira.

Os resultados dos atletas e o retorno de marketing que a Petrobras teve durante os Jogos Olímpicos e Paralimpícos serão avaliados nos próximos meses. O anúncio para o próximo ciclo deverá ser feito no primeiro trimestre de 2017. Do Time Petrobras, estiveram no encontro os medalhistas olímpicos Rafaela Silva, Rafael Baby e Mayra Aguiar, do judô; Isaquias Queiroz, da canoagem; Maicon Siqueira, do tae kwon do; e Fernando Reis, do levantamento de peso (este não ganhou medalha no Rio-2016). A ginasta Flávia Saraiva e as jogadoras do vôlei de praia Larissa e Talita também participaram, assim como os medalhistas paralímpicos Daniel Dias, da natação, e Verônica Hipólito, do atletismo.

Embora contem com patrocínios individuais, os três judocas se disseram temerosos quanto ao futuro. “A apreensão é muito grande para todo mundo. Não sabemos o que vai acontecer com o Bolsa Atleta, o Bolsa Pódio e o Plano Brasil Medalhas”, disse Baby, referindo-se a programas do governo federal aos quais são creditados os bons resultados do País na Olimpíada – com 19 pódios, sendo sete ouros, seis pratas e seis bronzes, o Time Brasil não bateu a meta do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) de terminar a Olimpíada entre os 10 primeiros colocados no quadro de medalhas (ficou em 13.º lugar), mas o País obteve o melhor resultado de sua história.

O governo Michel Temer ainda não anunciou os seus planos para o Bolsa Atleta, programa do Ministério do Esporte criado em 2005 e que patrocina individualmente atletas e paratletas de alto rendimento (no valor mensal de R$ 370 a R$ 3.100), o Bolsa Atleta Pódio, instituído em 2011 com a finalidade de apoiar atletas com chances de disputar finais e medalhas olímpicas e paralímpicas (R$ 5 mil a R$ 15 mil). Focado não só nos esportistas, mas também nas instalações usadas para treinamento, o Plano Brasil Medalhas, lançado em 2012 com olhos em 2016, deixou de existir ao fim dos Jogos.

O frisson gerado pelo fato de a Olimpíada e a Paralimpíada terem sido em casa alavancou os investimentos. Agora, em uma perspectiva pessimista, a tendência é que os patrocínios murchem, a despeito da visibilidade que as modalidades tiveram. “A agonia está em todos porque não houve nenhum posicionamento oficial (do governo”, disse Mayra Aguiar.

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“Os atletas que, como nós, têm patrocínio pessoal não sofrem tanto. Mas outros precisam dos programas para pagar contas, para comprar quimono, suplementos. É uma preocupação a mais, quando o atleta deve pensar só no treinamento. Quem ganha medalha tem mais visibilidade e quem não ganha?”, ponderou Rafaela Silva. “Eu espero que o apoio do governo e das empresas não só continue, mas melhore. O fim deste ciclo não é o fim do mundo. Não é por acaso que os países que mais investem têm mais medalhas”, observou Daniel Dias.

Maicon Siqueira enfrenta outro problema: a gratificação de R$ 12.500 que a Petrobras concede a medalhistas do tae kwon do, remo, boxe, levantamento de peso e esgrima, via confederações, não foi paga a ele. A empresa repassou o dinheiro, mas a confederação não o entregou ao atleta. A associação é investigada pela Polícia Federal por desvios de recursos de convênios com o Ministério do Esporte e seu presidente, Carlos Fernandes, já foi afastado.

O lutador já havia sido prejudicado no período pré-olímpico com a troca de treinador pela confederação, feita à sua revelia. Ele considera que pode estar sofrendo retaliação por ter criticado a entidade. “Acho que pode ser pela minha postura. Pedimos para a Petrobras interferir. Esse dinheiro faz muita falta para mim. Todos os meu suplementos são importados”.


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