A Turquia suspenderá sua ofensiva no norte da Síria por cinco dias, período em que as forças curdas deixarão a região e, assim que essa retirada estiver completa, o cessar-fogo será permanente, anunciou nesta quinta-feira (17) o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, após se reunir com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

A ofensiva turca “será totalmente interrompida quando a retirada for concluída” durante o período de cessar-fogo, disse Pence à imprensa após uma reunião de mais de quatro horas com Erdogan.

O presidente americano, Donald Trump, saudou nesta quinta a decisão e acrescentou que se trata de “um grande dia” para os Estados Unidos, Turquia e os curdos.

“Temos um cessar-fogo de cinco dias”, disse Trump de Forth Worth, no Texas. “Os curdos estão incrivelmente felizes com esta solução”, acrescentou o presidente, que expressou sua satisfação pelo fato de as negociações terem produzido resultados “tão rapidamente”.

“Suspendemos a operação, não a terminamos”, destacou o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu. “Iremos encerrar a operação apenas após a retirada completa (dos combatentes curdos) da região”.

Do outro lado do confronto, o comandante de uma aliança de combatentes curdos e árabes que resiste à ofensiva lançada pela Turquia no norte da Síria anunciou que o grupo está disposto a respeitar a iniciativa de cessar-fogo.

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“Estamos dispostos a respeitar o cessar-fogo”, anunciou o chefe das Forças Democráticas Sírias (FDS), Mazloum Abdi, em uma entrevista por telefone na rede de televisão curda “Ronahi”.

Batizada “Manancial de paz”, a ofensiva turca contra as forças curdas das Unidades de Proteção Popular (YPG) no noroeste da Síria, lançada em 9 de outubro, provocou indignação internacional.

A ofensiva já deixou cerca de 500 mortos, um centena deles civis, e forçou a fuga de 300 mil pessoas, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

– Missão complicada –

A missão de Pence se anunciava complicada, tendo em conta a posição do presidente turco, que descartou “sentar-se à mesa com terroristas”, e as declarações confusas de Trump sobre esta questão.

O presidente dos Estados Unidos deu a entender que havia liberado esta ofensiva, antes de receber uma avalanche de críticas internacionais e de seu próprio partido, que solicitaram a ele que pedisse à Turquia para encerrar a operação.

Os países do ocidente apoiam as YPG por seu papel na luta contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI), mas para Ancara as Unidades de Proteção Popular são um grupo “terrorista”.

– “Não seja tolo” –

Uma carta de Trump a Erdogan, na qual tentava convencer o presidente turco a não iniciar a ofensiva, que vazou na quarta-feira, provocou espanto em Washington. “Não seja um cara durão. Não seja tolo”, escreveu o dirigente americano.

Fontes diplomáticas informaram à CNN na Turquia que o presidente turco recusou a proposta e “jogou fora” a carta.


O objetivo da ofensiva é a criação de uma “zona de segurança” de 32 km de profundidade ao longo da fronteira. Este espaço permitiria separar a área das zonas sob controle das YPG e repatriar parte dos 3,6 milhões de refugiados sírios instalados na Turquia.

Esta operação transformou o norte da Síria no novo epicentro do complexo conflito que devasta o país desde 2011.

A pedido das autoridades curdas, o governo Bashar al-Assad enviou tropas para áreas que não controlava há vários anos. E, no plano internacional, a Rússia começou a ocupar o vazio deixado pelos Estados Unidos.

Para os países europeus, a operação contra os curdos, que administram as prisões onde estão os jihadistas do EI, gera o temor de fuga de combatentes extremistas e o ressurgimento do grupo.

Em um comunicado, o EI anunciou que uma unidade “de soldados do califado” atacou na véspera um quartel-general das forças curdas perto de Raqa, “libertando mulheres muçulmanas sequestradas” por combatentes curdos.

– Batalha de Ras al-Ain –

Na frente de batalha, os combates prosseguem, especialmente em Ras al-Ain, na fronteira com a Turquia, onde os curdos opõem forte resistência aos soldados de Ancara.

Atuando ao lado de milícias rebeldes sírias, o Exército turco avançou nesta quinta-feira na cidade, da qual controla quase 50%, segundo o OSDH.

Em 13 de outubro, as forças pró-Ancara já haviam conquistado outra cidade das milícias curdas na fronteira, Tal Abyad

Um correspondente da AFP na zona turca em frente a Ras Al Ain informou que ouviu ataques aéreos, disparos de artilharia e disparos de armas automáticas.

Nesta quinta, as autoridades curdas acusaram a Turquia de usar armas não convencionais, como fósforo branco e napalm. Ancara negou as acusações.


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