A Unesco empreende uma fase decisiva na eleição de seu novo diretor-geral nesta sexta-feira, um dia depois de Estados Unidos e Israel anunciarem sua saída da organização, acusando-a de ser anti-israelense.

Durante uma votação intermediária, os 58 países-membros do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) elegeram a candidata francesa Audrey Azoulay para disputar o último turno da eleição.

Com 31 votos contra 25 (dois em branco) ela se impôs sobre a egípcia Moushira Khattab, e enfrentará o candidato do Catar Hamad bin Abdoulaziz Al Kawari em votação ainda nesta sexta-feira em Paris.

O governo egípcio, que rompeu relações diplomáticas com o Catar, pediu votos a candidata francesa.

O ministro egípcio das Relações Exteriores, presente em Paris, “incentiva todos os seus amigos a votarem na França”, declarou à AFP um membro campanha da candidatura egípcia.

Essa eleição, complexa e muito política para nomear o sucessor da búlgara Irina Bokova à frente da Unesco evidencia as tensões no interior da organização.

– Sem unanimidade –

O candidato do Catar não tem unanimidade entre os países árabes que neste ano romperam relações diplomáticas com Doha, apesar de terem reivindicado insistentemente o posto para sua região.

Recentemente surgiram novas suspeitas de antissemitismo em torno de Al Kawari, repetidas pelo Centro Simon Wiesenthal da Europa e da Liga Anti-difamação (ADL) dos Estados Unidos.

Ele é reprovado, particularmente, por seu suposto silêncio diante da presença de livros antissemitas durante as feiras do livro organizadas quando era ministro da Cultura.

Em pleno processo eleitoral na Unesco, Estados Unidos e Israel anunciaram na quinta-feira sua saída da organização.

“Esta decisão não foi tomada em cima da hora e reflete a preocupação dos Estados Unidos pela dívida crescente à Unesco, pela necessidade de uma reforma fundamental na organização e pelo contínuo viés contra Israel”, afirmou o Departamento de Estado.

O mesmo Departamento afirmou que os Estados Unidos deve “aproximadamente 550 milhões de dólares” de contribuições atrasadas à organização.

“Queremos pagar esse dinheiro” a uma organização “anti-Israel?”, questionou o porta-voz Heather Nauert.

Bokova rejeitou a acusação e disse “lamentar profundamente” a decisão americana.

“Está em jogo a universalidade da organização”, afirmou nesta sexta-feira em declarações à rádio France Info, ressaltando que “muitas instituições culturais dos Estados Unidos, ONGs” também expressaram sua “decepção”.

A estas reprovações se somaram França, onde se encontra a sede da Unesco, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, que ressaltou “o destacado papel dos Estados Unidos na Unesco desde a sua fundação” em 1946. Moscou também lamentou a “triste notícia”.

A crise é alimentada há anos pelas controversas posições da Unesco sobre Jerusalém Hebron, defendidas pelos países árabes.