Envolta em um processo de reestruturação desde 2015, a líder do setor de diagnósticos Dasa agora se diz pronta para investir na sua internacionalização. Em entrevista exclusiva ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado), o vice-presidente médico da companhia, Emerson Gasparetto, afirma que aquisições na América Latina e na Ásia estão na mira.

Dona de laboratórios como o Delboni Auriemo e Lavoisier, a Dasa iniciou um processo de ajustes depois de decidir sair do Novo Mercado com a compra de ações que estavam nas mãos de minoritários pela família do empresário Edson Bueno, morto em 2017. Desde então, a empresa fez cortes de custos e voltou a investir em atualização de maquinários, buscando recuperar a imagem então deteriorada do Delboni Auriemo junto aos médicos.

“Considerávamos difícil uma companhia de saúde crescer de forma sustentável com investidores de Bolsa mantendo o foco no resultado trimestral”, diz Gasparetto.

A compra de ações reduziu drasticamente a quantidade de papeis da Dasa negociados em Bolsa, embora a companhia se mantenha listada na B3. Hoje, apenas 2% do capital está em negociação, ou seja, 98% está nas mãos da família Bueno. Antes da oferta pública de aquisição (OPA) de 2015, os minoritários tinham 27%.

Com a etapa de reestruturação cumprida, Gasparetto afirma que o momento é de expansão e diversificação. Os recursos para investir, diz, têm vindo da própria geração de caixa e do endividamento, embora a alavancagem esteja em nível considerado baixo: a dívida líquida chegou a R$ 1,4 bilhão ao final de março deste ano enquanto o patrimônio líquido é de R$ 3,4 bilhões.

Fora do Brasil, a Dasa afirma que já tem memorandos de entendimento assinados para possíveis aquisições na América Latina. Na região, os principais mercados-alvo são a Colômbia, o México e a Argentina.

A avaliação é de que, no Brasil, a rede – que já tem 678 unidades ambulatoriais e outras 78 hospitalares – não tem mais espaço para fazer aquisições. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) provavelmente barraria qualquer tentativa de união com alguns dos outros grandes grupos do setor e os ativos independentes de médio porte já estão ficando raros no mercado. O setor passou por uma consolidação nos últimos anos e hoje os principais ativos pertencem a grandes grupos como a própria Dasa ou os concorrentes Diagnósticos do Brasil, Fleury, Hermes Pardini e Alliar.

Já a expansão orgânica por meio da abertura de novas unidades no Brasil tende a desacelerar, diz Gasparetto. Em 2015, a companhia abria em média 100 unidades por ano, mas esse número foi de 43 unidades em 2017. Este ano até o momento, foram 6 aberturas.

“A crise foi mais longa do que se esperava, então não temos mais acelerado as aberturas porque temos hoje capacidade para suportar um crescimento de demanda”, comentou Gasparetto.

Com preços mais acessíveis, a rede Lavoisier foi a que mais sofreu na crise dos últimos anos, que reduziu o emprego e, consequentemente, diminuiu a base de beneficiários dos planos de saúde.

Modelo de pagamento

A Dasa decidiu ainda começar a testar uma mudança nos modelos de remuneração por suas atividades. A medida é vista como parte de uma solução de longo prazo para viabilizar esse segmento de preço mais baixo.

Planos de saúde costumam remunerar os prestadores de serviço (como hospitais, médicos e laboratórios) pela quantidade de procedimentos realizados. Nos últimos anos, no entanto, a escalada de custos na saúde tem levado a uma defesa na mudança desse modelo, buscando não incentivar a realização de procedimentos desnecessários.

Um projeto piloto da Dasa em Brasília instaurou a partir de abril deste ano a remuneração por quantidade de vidas e não mais por procedimento realizado. Assim, a companhia recebe do plano de saúde um valor fixo por beneficiário atendido por mês. Seguindo uma mudança que pode se concretizar como tendência no mercado pela frente, a remuneração não vai mais depender da quantidade de exames, o que faz com que a companhia passe a incentivar que médicos não receitem testes desnecessários.

Gasparetto afirma que ainda é cedo para avaliar os impactos da mudança na remuneração nos resultados financeiros da companhia, mas acredita que será possível implementar aos poucos essa prática em outras regiões.