Após ser alvo de polêmica por questões relacionadas ao agronegócio na prova de Ciências Humanas, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) voltou a abordar temas relacionados ao setor agrícola neste domingo, 12, quando os estudantes fizeram as provas de Ciências da Natureza e Matemática. Conhecimentos sobre pesticidas e as consequências do desmatamento foram cobrados dos alunos.

Segundo professores de cursinhos, as perguntas eram indiretas, sem viés ideológico ou críticas claras ao agro.

No último domingo, 5, deputados ligados ao agronegócio criticaram a “ideologização do Enem” por perguntas que, segundo eles, teriam viés ideológico. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) chegou a pedir a anulação de três questões sobre a exploração do Cerrado e os prejuízos do agronegócio para os camponeses e o desmatamento da Amazônia no cultivo da soja. A anulação foi descartada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).

Uma das questões abordava o uso de pesticidas e perguntava quais amostras de fluidos humanos poderiam conter maior concentração deste produto. “Existe o inseticida e a prova mostrava a sua composição, a sua fórmula. Depois, ela diz que o pesquisador coleta fluidos biológicos de uma população, de sangue, de saliva, da urina e do leite. A prova pergunta em qual desses fluidos o pesquisador encontrou a maior concentração dessa substância. É uma questão técnica, natural de exames desse tipo”, avalia o professor Ademar Celedônio, diretor de Ensino e Inovações do SAS Plataforma de Educação.

O tema do desmatamento também foi abordado, mas de maneira indireta, falando sobre redução de população de abelhas e uma possível intervenção para evitar o declínio no número desses insetos.

“Um dos grandes motivos da extinção das abelhas é a falta de regiões onde elas possam produzir suas colmeias em segurança. Uma das ações possíveis para reverter esse quadro é o replantio de árvores nativas”, explica Caê Lavor, diretor de Ensino Médio e Avaliações do SAS Plataforma de Educação. De acordo com o professor de Biologia Diogo Diaz, do Colégio e Curso AZ, o uso de pesticidas foi citado em uma das alternativas, mas essa não era a resposta correta.

Outra questão aborda a baixa fertilidade dos solos amazônicos e uma técnica utilizado por antigos habitantes da região para torná-la fértil. O tema, porém, foi usado para cobrar conhecimentos sobre conceitos físico-químicos, como eletronegatividade.

Claudia Costin, presidente do Instituto Singularidades, afirma que as questões não incentivam uma visão negativa do agronegócio. “Não vejo nada de ideológico. Não é porque fala da proteção do solo e da inadequação do solo para determinadas formas de agricultura, como diz uma das perguntas, que isso envolve um conteúdo contra o agronegócio. Isso é consenso científico”, diz. “Nenhuma das perguntas parece ter preconceito ou incentivo a uma visão negativa do agronegócio.”

Amadurecimento do abacate, Síndrome de Down e a TPM entre os temas

Sabrina Bileski, coordenadora de Avaliações no SAS Educação, destaca que os temas estavam relacionados ao cotidiano, aproximando o ensino do dia a dia do aluno. Entre os exemplos da prova de biologia estão vacinação (tecnologia do RNA mensageiro, usada contra covid-19), a gravidez de um casal com síndrome de Down e as causas hormonais da Tensão Pré-Menstrual (TPM). “Outra questão perguntou por que o abacate amadurece mais cedo em determinadas situações”, exemplifica.

“Duas questões sobre covid e imunização é algo que pode ser considerado como um tópico atual e relevante, tendo em vista a discussão da vacina nos últimos anos. Na maior parte das vezes, as questões não são elaboradas no mesmo ano da prova, mas ainda assim, é algo importante”, comenta Daniel Balbinot, coordenador pedagógico do Poliedro.

Uma conversa entre Cascão e Cebolinha, personagens da Turma da Mônica, por meio de um telefone improvisado com barbante, foi usada para abordar noções de ondas sonoras na prova de física, o que chamou a atenção de Pedro Lopes, editor de Avaliações no SAS Educação.

Virgílio Aveiro, professor de Química da Escola SEB Lafaiete, cita uma questão sobre o funcionamento das usinas nucleares de Chernobyl e Fukushima. “A prova de química foi muito bem dividida, com leitura rápida, questões conceituais e poucos cálculos. Senti ausência da eletroquímica e termoquímica, que são assuntos bem cobrados em edições anteriores do Enem.”

Ao analisar a prova como um todo, Gilberto Alvarez, diretor do Cursinho da Poli, afirma que a “prova de Ciências da Natureza foi menos interpretativa e mais conceitual, exigindo um estudante que soubesse conceitos de física, química e biologia”.

A prova foi “excelente”, na opinião de Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora Pedagógica do Objetivo. “Textos mais curtos que não dariam trabalho. Pais e professores vão perceber que elas estão claras, bem formuladas e atualizadas. Foi uma prova criativa, pedindo o conteúdo do Ensino Médio.”