Após ser praticamente apagada do mapa por um tsunami de fogo, Paradise quer pensar na sua reconstrução.

Mas especialistas advertem que com a normalização destes megaincêndios florestais na Califórnia, devido à mudanças climáticas, os padrões de construção na costa oeste dos Estados Unidos precisam mudar e se alinhar mais aos dos povos da Europa localizados em áreas com florestas.

“Devemos pensar se há uma forma de projetar uma nova Paradise que pareça mais com uma vila europeia ou um povoado para esquiar, sem casas na floresta”, considerou Bill Stewart, codiretor do centro de Silvicultura da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Stewart sugere buscar a inspiração nos povoados nas montanhas dos Pirineus, que se estendem entre França e Espanha, como modelo para o futuro da Califórnia.

“Seria muito mais seguro se não tivéssemos pessoas vivendo basicamente no combustível” dos incêndios, disse à AFP.

O incêndio “Camp” – registrado na base de Serra Nevada – matou ao menos 81 pessoas, enquanto centenas continuam reportadas como desaparecidas.

O fogo também arrasou 12.600 residências.

Para Stewart, a mudança climática, a má gestão das florestas por parte do governo dos Estados Unidos e o forte aumento de casas em zonas florestais fazem com que estes megaincêndios não apenas sejam mais prováveis, mas também mais letais.

– A nova ‘anormalidade’ –

Países europeus como França, Portugal e Espanha perdem uma boa porção de suas florestas a cada ano com os incêndios, mas raramente sofrem os níveis de morte e destruição que a Califórnia e seus moradores vêm registrando.

E é porque “as pessoas não vivem nas florestas”, insistiu Stewart.

Desde os ricos enclaves do sul da Califórnia até o gigantesco Parque Nacional Yosemite, a Califórnia tem testemunhado este ano quatro megaincêndios sem precedentes, que queimaram mais de 40.500 hectares.

Entre eles está “Camp”, que afetou uma área maior que a cidade de Chicago.

Os incêndios “crescem a um ritmo muito superior às projeções dos pesquisadores mais pessimistas do que há uma década”, destacou Stewart. “Existem coisas que podem ser feitas, mas mesmo assim teríamos quatro megaincêndios por ano ao invés de oito”.

O governador da Califórnia, Jerry Brown, foi mais direto: “isso não é a nova normalidade, é a nova anormalidade”, disse à imprensa quando “Camp” estava em seu auge.

“E esta nova anormalidade continuará certamente nos próximos 10 a 15 anos, talvez 20 anos. Infelizmente, os melhores cientistas nos dizem que a seca, o calor, todas essas coisas, vão se intensificar, é parte do nosso futuro”, detalhou.

– Clima mediterrâneo –

Matt Días, funcionário executivo da Junta de Silvicultura e Proteção de Incêndios da Califórnia, disse que o estado atribuiu cerca de um bilhão de dólares para os próximos cinco anos na prevenção de incêndios.

Grande parte do dinheiro será destinada a atividades de educação e prevenção, como a limpeza de ervas daninhas e outros tipos de vegetação.

“Os padrões que estamos experimentando indicam que é provável que esses megaincêndios continuem ocorrendo, mas existem formas de fazê-los retroceder”, disse.

“A supressão (da vegetação) tem um papel-chave no programa de prevenção de incêndios”, explicou.

Mas especialistas podem mais restrições para construir em florestas como forma de eliminar o perigo antes que o fogo comece.

Um estudo recente revelou que um terço de todas as residências nos Estados Unidos está localizado no que seus autores definem como uma interface urbano-florestal, onde as casas e a vegetação florestal se misturam.

“Nós, que moramos na Califórnia, precisamos entender que vivemos em um clima mediterrâneo”, indicou Días.

“O fogo é parte natural de nossas terras florestais. À medida que o tempo passa, parece que os problemas associados à mudança climática persistirão, pelo que é provável que estes grandes incêndios continuem”.