O Mundial Feminino de futebol se tornou uma febre nunca antes vista no Brasil por causa de vários ingredientes misturados: debate sobre igualdade de gênero no esporte, desilusão com a seleção masculina, empatia com as jogadoras e suas histórias de vida, apoio maciço de grandes empresas e recordes de audiência na tevê aberta. Mas, após a eliminação nas oitavas de final da competição diante da anfitriã França, a pergunta que aparece é sobre qual será o legado desse megaevento.
A campanha do Brasil na Copa não foi um fiasco, pelo contrário, a eliminação veio apenas na prorrogação contra uma das principais forças do torneio e que estava jogando em casa, a França. O técnico Vadão, porém, já vinha sofrendo críticas e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) deve tomar uma decisão na próxima semana sobre qual projeto levará adiante até os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.
De um lado, está a preocupação em deixar a equipe nacional bem preparada. “Devemos ter um torneio no Brasil, com duas ou três partidas, e temos convite para jogar na China. Agora vamos fazer uma agenda bastante positiva para que a gente possa manter a seleção em atividade e não perder esse ritmo que foi conseguido para a Copa, e claramente melhorá-lo na parte física e técnica”, explicou Marco Aurélio Cunha, coordenador de futebol feminino da CBF.
O outro ponto importante é desenvolver ainda mais o futebol feminino no País. Atualmente, existem duas divisões nacionais. Na Série A-1 são 16 equipes e o torneio, que foi paralisado em razão do Mundial, está na 9ª rodada. O Corinthians lidera, seguido pelo Santos. Além dos dois rivais, outros exemplos de grandes times que estão na elite são Internacional, Flamengo, Vitória e Sport. Já na Série A-2, a segunda divisão, são 36 clubes e a competição está nas quartas de final. Sobem quatro equipes para a elite. Os jogos são: Ceará x Cruzeiro, América-MG x Grêmio, Chapecoense x Palmeiras e Taubaté x São Paulo. A disputa será retomada a partir de 12 de julho.
Os clubes passaram a ser obrigados a cumprir diversas exigências para obter o licenciamento da CBF e, entre essas mudanças, estava a criação de uma equipe feminina. Obrigatoriamente. Por isso, grandes times ainda estão na segunda divisão. Ainda neste ano, terá início um Campeonato Brasileiro da base, com 24 participantes. Em maio, a TV Bandeirantes firmou parceria com a CBF e a emissora passou a transmitir jogos das duas divisões, que passam também no Twitter. Ainda há a disputa de Estaduais. Em São Paulo, tem a divisão principal e uma competição sub-17.
Neste mês, o São Paulo obteve patrocínio exclusivo para sua equipe feminina. “Quando começamos a conversar com o São Paulo, sabíamos que tinha a Copa do Mundo Feminina, mas como nunca teve uma evidência tão forte quanto no masculino, não tínhamos ideia do tamanho do impacto”, comentou Rodrigo Machado, gerente de marketing da Giuliana Flores.
Um alento parece estar vindo de diversas empresas que se engajaram em um movimento de apoio ao futebol das meninas. O Guaraná Antarctica incentivou outras marcas e 14 aceitaram a convocação: Almap BBDO, Cabify, Always, DMCard, Downy, Gilette Vênus, GOL, Havaianas, LAY’S, Nescau, Nutren Beauty, O Boticário, Uber e Volkswagen Caminhões.
Fornecedora de material esportivo da seleção, a Nike criou pela primeira vez um uniforme para as mulheres a partir de “estudos e troca de informações com as próprias jogadoras”. Quem também festejou o torneio foi a Panini, com vendas do álbum de figurinhas com as principais estrelas da competição. Ao que tudo indica, é um caminho sem volta e a tendência é que o espaço do futebol feminino seja cada vez maior.