Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o advogado-geral da União Jorge Messias tem corrido contra o tempo. Após ter telefonemas ignorados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ele tem conversado com outras peças importantes para viabilizar sua aprovação na Casa.
Messias ligou para Alcolumbre no mesmo dia em que Lula anunciou a escolha, em 20 de novembro, mas não foi atendido, e tampouco o senador retornou, segundo o relato de uma pessoa próxima do AGU.
Sem conseguir contato direto, Messias divulgou nesta semana uma nota pública dirigida a Alcolumbre, que ainda não tinha pautado a sabatina. O AGU disse que tem uma relação “saudável, franca e amigável” com o senador, por quem tem “grande admiração e apreço”. Alcolumbre defendia o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para ocupar a vaga deixada por Luís Roberto Barroso na Corte.
Com a porta fechada com Alcolumbre, Messias apostou na conversa com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o governista Otto Alencar (PSD-BA), e o relator da indicação, Weverton (PDT-MA), próximo ao ministro do STF Flávio Dino – que tem sido apontado como pedra no sapato de Messias nesse percurso.
A rejeição de Alcolumbre ao contato de Messias é tratada como indelicadeza e mais uma prova de que o presidente do Senado trabalha contra a indicação.
Duas horas após o anúncio de Lula, Alcolumbre anunciou uma pauta-bomba com impacto bilionário para as contas públicas, em sinal de retaliação.
Na terça-feira, 25, ele marcou a sabatina de Messias para dia 10 de dezembro, prazo considerado exíguo para a tarefa de conversar com todos os 81 senadores – quase seis encontros por dia, contando sábados e domingos. O ministro de Lula precisará de maioria absoluta da Casa, ou seja, 41 votos, para ser aprovado.
Levantamento realizado pelo Estadão em consulta aos 27 membros da CCJ mostra que Messias não começa com vantagem na disputa. O placar da terça-feira, 25, contabiliza seis votos contrários ao ministro no STF, cinco favoráveis e quatro indecisos. Outros dois senadores não quiseram responder e 10 não retornaram. O placar será atualizado sempre que novas respostas surgirem.
Messias está no Senado nesta quarta-feira, 26, e terá uma série de encontros nos próximos dias para tentar garantir sua cadeira no STF. O processo é costumeiro para todos os indicados ao cargo e chamado de “beija-mão” no jargão político.
Nenhum indicado pelo presidente da República ao STF, entretanto, foi rejeitado pelo Senado desde a redemocratização.
A insatisfação tem se arrastado. Alcolumbre decidiu não comparecer à cerimônia de sanção da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda (IR) nesta quarta.
Como o Estadão mostrou, o presidente do Senado disse a interlocutores que, a partir de agora, será um “novo Davi” para o Palácio do Planalto.
“Vou mostrar ao governo o que é não ter o presidente do Senado como aliado”, afirmou Alcolumbre na quinta-feira, 20, a portas fechadas, depois de saber que Lula confirmara a escolha de Messias.