Após mais de dez anos, o Banco Central voltará a promover operações de venda direta de dólares ao mercado financeiro. Em meio à crescente busca das empresas brasileiras por dólares, a instituição anunciou que ofertará lotes diários da moeda americana entre 21 e 29 de agosto. Os montantes ainda serão anunciados.

Uma operação assim não ocorria no Brasil desde fevereiro de 2009, quando o BC foi obrigado a ofertar dólares ao mercado para manter a liquidez após o estouro da crise financeira global. Agora, o motivo da atuação do Banco Central é outro.

O Estadão/Broadcast apurou que, nos últimos meses, a instituição tem identificado um movimento de troca de dívida por grandes empresas brasileiras. Muitas estão quitando operações de crédito feitas no exterior e, ao mesmo tempo, fechando novas operações de financiamento dentro do País. Na prática, ocorre a chamada “rolagem” da dívida, mas o compromisso deixa de ser com instituições de outros países e passa a ser com instituições locais.

De fato, os dados do BC mostram que, em 12 meses até junho, o saldo referente a títulos emitidos por empresas no mercado externo caiu 34,5%. No mesmo período, o saldo de títulos de dívida emitidos no mercado brasileiro subiu 34,4%.

O problema é que, para quitar os compromissos no exterior, as empresas precisam de dólares. Isso tem aumentado a procura pela moeda americana no Brasil, o que contribui para que as cotações ante o real também avancem. Somente no mês de agosto, o dólar acumula alta de 5,73%, cotado a R$ 4,0388.

Para suprir esta demanda, o BC chegou a promover em alguns meses “leilões de linha” – operações em que a instituição vende dólares ao mercado, mas com o compromisso de recomprá-los no futuro.

Desta vez, o BC decidiu vender a moeda diretamente, em lotes diários, de 21 a 29 de agosto. E não haverá devolução. Na prática, isso fará com que as reservas internacionais do Brasil diminuam. Atualmente, o País possui cerca de US$ 388 bilhões em reservas internacionais. O efeito esperado é que as empresas encontrem mais facilidade neste processo de troca de uma dívida no exterior por um compromisso no Brasil.

O uso das reservas sempre foi um tabu entre economistas de dentro e de fora do mercado financeiro. Isso porque o montante é visto como um “seguro” contra crises internacionais e ataques especulativos ao real, a ser usado em momentos de emergência. No passado, o baixo nível das reservas fez o Brasil enfrentar fortes crises cambiais. Por outro lado, hoje há críticas quanto ao atual nível deste seguro, considerado por alguns economistas como exagerado.

Sob o comando de Roberto Campos Neto, o BC tem aprofundado os estudos sobre a gestão das reservas. Em entrevistas, Campos Neto sempre afirmou que a intenção não é adotar “medidas radicais” sobre o tema, mas sinalizou que, com a aprovação das reformas econômicas, a instituição voltaria a avaliar o custo de carregar tantas reservas.

Para evitar uma redução no volume de recursos disponível para que o País enfrente uma crise internacional, o BC anunciou outras operações para o período de 21 a 29 de agosto, além da venda de dólares. A instituição promoverá também leilões de swap cambial reverso – um tipo de contrato que, ao ser negociado, gera um efeito equivalente à compra de dólares pelo BC no mercado futuro. Além disso, o BC fará leilões de swap cambial tradicional – venda de dólares no mercado futuro.

Os montantes em cada operação ainda serão anunciados, mas o BC informou, por meio de nota, que o resultado final será nulo no que diz respeito à sua posição cambial líquida. Hoje esta posição está em US$328,6 bilhões. Este é o valor que, na prática, o País tem à disposição para emergências. É o verdadeiro “seguro” contra crises. Ele é menor que o montante das reservas internacionais, porque já considera operações cambiais feitas pelo BC no passado.

De acordo com a autarquia, mesmo com a venda de dólar à vista ao mercado, as demais operações com swaps vão garantir que a posição líquida fique em níveis próximos dos US$ 328,6 bilhões.