Mal assentada a poeira em torno da crise envolvendo a carne brasileira, o presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, pode em breve se ver metido em novas confusões. Dessa vez, a polêmica envolve seu arquirrival no varejo francês, Jean-Charles Naouri, ex-controlador do Grupo Casino, antigo gigante do ramo supermercadista europeu que, no Brasil, foi dono do Grupo Pão de Açúcar.

Há pouco mais de um mês, Naouri entrou com processo na França contra um grupo de investidores e executivos que teriam tramado uma ofesiva que levou o Casino à bancarrota. No processo, Naouri acusa o investidor Carlson Block, do fundo de hedge americano Muddy Waters Research, o acadêmico americano Willian Ury e uma série de outras pessoas, entre elas o empresário brasileiro Abílio Diniz, ex-dono do Pão de Açúcar e acionista do Carrefour, de armarem um complô para derrubá-lo do comando do Casino e aniquilarem o grupo varejista francês.

Segundo fontes familiarizadas com o processo, também estariam na lista Jes Staley, ex-CEO do banco britânico Barclays, e Alexandre Bompard, entre um punhado de banqueiros e executivos de casas de análise de risco. O CEO do Carrefour, que acaba de pedir desculpa aos brasileiros depois de esculhambar a qualidade da carne produzida no país, surge na confusão na condição de proponente de uma tentativa de compra do Casino pelo Carrefour em 2018. Naouri considerou a proposta ultrajante na época.

No processo, que atualmente aguarda a nomeação de um juiz de instrução, os advogados de Naouri acusam os envolvidos de “manipulação de preços, divulgação de informações falsas e enganosas, abuso de informação privilegiada, corrupção ativa, conspiração criminosa e ocultação destes crimes”, segundo uma reportagem sobre o assunto publicada no jornal francês Le Figaro. Na visão dos advogados de Naouri, a “espiral infernal” em que o Casino mergulhou começou em 2015 a partir da publicação de um relatório devastador sobre as finanças do grupo produzido pela Muddy Waters, do investidor Carlson Block.

Segundo eles, Block estaria associado a William Ury e Abílio Diniz, este último inimigo figadal de Naouri desde a disputa pelo controle do Pão de Açúcar no Brasil entre 2011 e 2013. “Obviamente, a espiral infernal iniciada em 2015 levou a aumentos de preços e causou descontentamento dos clientes, apesar de uma dívida em forte queda”, explicam os advogados do CEO na altura.

“Esse mecanismo, marcado por sucessivos ataques de matilha obviamente coordenados, levou à morte do grupo após oito anos, com considerável impacto social”, apontam. Depois de sucessivos e acirrados embates, Naouri finalmente capitulou em março, ao vender o grupo para o bilionário tcheco Daniel Kretinsky. Apesar da derrota, o processo que ele acaba de protocolar na Justiça é uma demonstração de que seu apetite para a briga continua mais aguçado do que nunca.