A nova direção da Fifa ainda não definiu onde será a Copa do Mundo de 2026. Mas já sabe que não vai mais poder exigir o “padrão Fifa” da forma que ocorreu no Brasil em 2014 e que levou a entidade a sofrer forte resistência da população e mesmo das autoridades públicas.

Nesta quinta-feira, um novo capitulo começa na história da Fifa. A entidade, obrigada a ser reformada diante do risco de desaparecer, se reúne pela primeira vez em seu novo formato, com um conselho expandido e diante da expulsão ou suspensão, nos últimos quatro anos, de cerca de 70 cartolas ou empresários. Mas velhos hábitos não desaparecem, como a distribuição de dinheiro aos dirigentes de todo o mundo.

O que a entidade sabe que tem de mudar é em sua relação com o público, caminhando no sentido de aceitar as condições do país que sediará o evento e evitando fazer cobranças fora da realidade da economia local. Conforme o jornal O Estado de S. Paulo revelou, a Fifa vai tentar fazer aprovar uma nova regra permitindo que a Copa do Mundo ocorra não mais em um país, mas numa região.

Nesta quarta-feira, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, confirmou isso tudo à CNN. Isso, claro, para permitir que outra de suas promessas seja atendida: uma expansão da Copa para 48 participantes.

“Um país não pode mais ser obrigado a ter 12 ou 14 estádios de ponta, aeroportos, infraestrutura. Mas sim ver a possibilidade de sedes conjuntas, com dois, três ou quatro países se unindo para apresentar uma candidatura única para que todos possam ter o evento, sob um custo muito menor”, disse.

Para a nova direção da Fifa, a experiência do Brasil em 2014, com uma população contra os gastos do estado com o evento, ensinou que o modelo precisa mudar. “Não podemos mais impor tanta coisa”, disse um dos dirigentes ao Estadão.com, na condição de anonimato. A ordem é a de exigir menos e fazer eventos com uma participação menor dos governos”, disse.

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A reportagem apurou que o movimento é para que o caderno de encargos do Mundial se limite a falar das condições dos estádios, e ainda assim respeitando os fornecedores locais. “Não tem mais como passar pela situação de criar um Padrão Fifa e impor a governos”, admitiu outro dirigente.

Infantino preside nos próximos dois dias sua primeira reunião do órgão máximo do futebol, o Conselho da Fifa, com 32 membros. Passam a valer regras de limite de mandatos, exigência de transparência de salários e outras medidas de controle. Até mesmo um novo local em Zurique foi escolhido para hospedar esses dirigentes, abandonando o tradicional hotel Baur au Lac, cenário das prisões dos cartolas em 2015. A simbologia é clara: a Fifa mudou.

Mas, nos corredores da entidade e no lobby do novo hotel dos dirigentes, o que faz o olho de muitos deles brilhar é o fato de que Infantino sinaliza que vai começar a cumprir um dos principais pontos de sua promessa eleitoral, com o envio de recursos para cada uma das federações nacionais.

Até o final do ano, cada uma delas deve receber cerca de US$ 1,5 milhão da Fifa, que garante que irá monitorar o uso do dinheiro. No caso da América do Sul, entidades como a CBF prometeram que usarão os recursos para ajudar o futebol feminino, futsal e futebol de praia.

Se o fundo da Fifa para o Brasil, resultado da renda da Copa do Mundo de 2014, continua bloqueado, os novos recursos fazem parte de um outro dossiê e tanto a CBF como a Conmebol estão confiantes de que receberão os cheques. “Nossa reforma está mais avançada que a da Fifa”, disse ao Estadão.com o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez.

Ao se lançar na corrida para presidir a Fifa, o suíço havia indicado que iria ampliar a Copa do Mundo e dar mais dinheiro às federações nacionais. Seu programa convenceu os eleitores e ele venceu, seguindo um modelo parecido ao que João Havelange, nos anos 70, adotou.

Agora, Infantino diz que tem sofrido resistência para implementar suas reformas. “Existem forças que não querem resultados”, disse em entrevista à rede CNN. “Precisamos fazer as reformas, ser transparentes”, afirmou.

O novo presidente também tenta se dissociar das prisões que ocorreram em 2015. “O passado é o passado. Temos de virar a página”, disse. “Estamos agora operando em um estado totalmente diferente”, garantiu.


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