Como nas máximas da sexta-feira, o Ibovespa voltou a flertar nesta segunda-feira com o nível de 114 mil pontos, após uma sequência de cinco perdas que o retirou, depois do fechamento do último dia 6, dos 117,5 mil pontos – que havia sido seu melhor nível de encerramento desde 8 de abril. Assim, após série de 10 sessões dividida ao meio entre cinco ganhos e cinco perdas, a referência da B3 retomou terreno nesta segunda-feira, em alta de 1,38%, a 113.623,98 pontos, com giro a R$ 28,0 bilhões. Entre a mínima e a máxima, oscilou dos 112.090,36 aos 114.406,03 pontos, saindo de abertura aos 112.106,80 pontos. No mês, avança 3,26% e, no ano, 8,40%.

“O local se manteve hoje muito conectado ao internacional, com forte desempenho em Nova York, animado pelos resultados do Bank of America, que ajudou aqui as ações de bancos, em dia também de recuperação na Europa, com a reconsideração pelo governo britânico de propostas fiscais que haviam sido mal recebidas pelo mercado. Por aqui, com agenda meio esvaziada nesse começo de semana, o boletim Focus ainda traz projeções melhores para IPCA e PIB, uma combinação que sempre ajuda”, diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.

Na ponta negativa do Ibovespa nesta segunda-feira, destaque para MRV (-11,42%), por conta de prévias operacionais que trouxeram desaceleração de vendas e queima de caixa, resultados que decepcionaram os investidores, aponta Harada. Por outro lado, empresas com exposição ao câmbio como as do setor de viagens (Azul +6,11%) e turismo (CVC +9,18%) estiveram entre as campeãs do dia, favorecidas por recuo do dólar ante o real, ainda que bastante moderado ao longo da tarde – a moeda americana fechou o dia em leve baixa de 0,37%, a R$ 5,3028.

Aqui, “os juros futuros recuaram com perspectiva de melhora da inflação, pela queda no preço das commodities, e a divulgação do Boletim Focus projetando IPCA mais baixo para 2022 e 2023, o que favorece os ativos de risco”, aponta Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora. No câmbio, acrescenta o analista, o dólar acabou mostrando ao fim recuo muito leve frente ao real, alinhado ao mercado externo, com a recuperação da moeda americana observada no final do pregão refletindo “alguma cautela por parte dos investidores”.

Na B3, “o mercado acompanhou a volta do investidor para os ativos de risco vista lá fora. Uma melhora grande no exterior, principalmente com a decisão do governo britânico de revogar grande parte dos cortes de impostos que haviam sido propostos, e que estavam levando as contas públicas daquele país para uma situação complicada”, diz Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset, chamando atenção para o efeito “tranquilizador” não apenas para a libra mas também para os mercados acionários. “Um problema a menos para o mundo”, acrescenta.

Em discurso ao Parlamento britânico, o ministro das Finanças do Reino Unido, Jeremy Hunt, disse nesta segunda-feira que o governo precisa “fazer mais e mais rápido” para dar segurança aos mercados sobre seus planos fiscais. A fala vem após uma série de reversões no plano fiscal anunciado havia poucas semanas pela equipe da primeira-ministra Liz Truss. As movimentações políticas do Reino Unido ficaram assim em foco nesta segunda-feira, com a decisão de reverter quase todos os cortes de impostos previstos pelo novo governo.

Com alguma melhora na percepção de risco lá fora – com destaque para o índice de tecnologia de Nova York, o Nasdaq, que fechou em alta de 3,43% -, os investidores também retomaram as compras na B3. Até o começo da tarde, os ganhos eram bem distribuídos pelas ações e segmentos de maior peso no Ibovespa, o que levou o índice a marcar ganhos pouco acima de 2% nas máximas do dia. No meio da tarde, a virada, ainda que leve, observada nos preços do petróleo tirou ímpeto de Petrobras, que fechou o dia em baixa (ON -0,65%, PN -0,09%).

Entre os setores de maior liquidez, embora também com desempenho amortecido no fechamento, destaque nesta segunda-feira para os grandes bancos, como Itaú (PN +0,80%), Santander (Unit +0,90%) e BB (ON +0,84%). “Nos Estados Unidos, a temporada de balanços continua com força nesta semana. Nesta segunda, mais cedo, foi divulgado o balanço do Bank of America, superando as estimativas para lucro e receita”, aponta em nota a Guide Investimentos.

O setor minero-siderúrgico teve desempenho misto na sessão, apesar da queda do preço do minério de ferro na China nesta segunda-feira (-1,93% em Dalian), em meio à ausência de estímulos econômicos, no curto prazo, para fazer frente aos efeitos dos lockdowns sobre o ritmo de atividade, especialmente na construção civil, observa Martinez, da Kilima. Vale ON fechou em alta de 1,20% e Gerdau PN, de 2,09%, mas Usiminas PNA e CSN ON cederam, respectivamente, 1,22% e 0,70%.

Na agenda doméstica, se por um lado o Focus contribuiu para que o Ibovespa se alinhasse ao bom humor externo, por outro o IBC-Br de agosto, também divulgado nesta manhã pelo Banco Central, decepcionou. O indicador de atividade econômica do BC avançou 4,86% em relação a agosto de 2021, mas, na margem, recuou 1,13%, em desempenho pior do que o mercado antecipava para a comparação com julho, observa em nota a Terra Investimentos. “Além disso, os resultados dos últimos meses foram revisados predominantemente para baixo”, acrescenta a casa.