O apoio ao presidente de Jair Bolsonaro é uma espécie de lavagem cerebral que vai demorar anos para ser extirpada da sociedade brasileira. Para quem é normal e está observando de fora, isso é bastante óbvio; já os seus apoiadores lutam contra a lógica na hora de apresentar argumentos que justifiquem essa postura cega e incontestável, que no fundo se assemelha à posição do rebanho pronto para ir ao abate. Foi por essa razão que ganharam o apelido de “gado”.

Veja também

+ Que o homofóbico vá pedir emprego a Bolsonaro e viver na Bolsolândia, longe da civilização
+ Sem saber que está ao vivo, Bolsonaro fala sobre propina e ‘preço’ de vaga no STF
+ Marisa Orth é detonada por postar vídeo em que Marília Mendonça critica Bolsonaro

Não vou citar nomes por educação, mas tenho pessoas próximas que são exatamente assim. Permita-me compartilhar um caso pessoal: infectada com a Covid no início da pandemia, uma mulher sem comorbidades, de 60 anos, obedeceu ao médico (negacionista e apoiador de Bolsonaro, como ela) e ficou em casa durante duas semanas ingerindo apenas o kit Covid. Quando foi internada, já em estado grave, foi tarde demais: morreu três dias depois, para desespero da família e dos amigos.

Ainda não havia vacinas disponíveis, é verdade. Mas a obsessão idiota em seguir o que o presidente recomendava certamente teve influência direta em seu tratamento e, por consequência, em sua morte. Se estivéssemos em um país decente, o CRM do médico teria sido cassado e ele, preso. Mas não: vivemos no Brasil, onde o apoio a um político criminoso desafia a lógica.

A família ficou devastada. Lágrimas escorreram como cachoeiras, do marido, filhos, netos. Na época, todo mundo que sabia ler já tinha conhecimento de que o kit covid era uma invenção do presidente para se contrapor ao isolamento, um placebo que forçaria as pessoas a irem para as ruas acreditando que estariam a salvo da morte. Quantas pessoas acreditaram no presidente e fizeram isso? Quantas delas morreram? Essas mortes entram na conta de Jair Bolsonaro e, segundo especialistas, estão na casa das dezenas de milhares. Não é à toa que ele é considerado um genocida por muitas organizações sérias.

O lado mais surpreendente desse caso vem agora: um ano depois, a família continua a apoiar Jair Bolsonaro. Não tive coragem de conversar com eles diretamente sobre o assunto, sob risco de romper para sempre as relações. Sei que eles não lerão esse texto, pois se informam apenas por grupos bolsonaristas do Facebook e veículos de propaganda que se escondem de maneira enganosa sob o rótulo de “imprensa”. Minha revolta, no entanto, é imensa: sei que essa mulher, de quem eu gostava, morreu por acreditar no presidente. O fato de a família seguir apoiando o responsável pela morte da própria mãe, no caso dos filhos, ou da esposa, no caso do marido, é algo que foge a minha compreensão. Não consigo entender como eles, pessoas supostamente de bom nível intelectual, empresários de sucesso, não têm a capacidade cognitiva de estabelecer uma relação tão óbvia entre causa e consequência. Entre os inúmeros legados nocivos que Bolsonaro deixará para o País quando deixar o cargo, esse me parece um dos mais perigosos.