Quando o seu próprio quintal está muito sujo, a população de um país evita criticar a erva daninha do quintal do vizinho. Prefere pôr ordem em casa. Foi isso o que os mexicanos fizeram na semana passada ao eleger para a Presidência da República, com 53% dos votos, o líder de esquerda Andrés Manuel López Obrador (apelidado de AMLO). Para os eleitores, pouco importaram as críticas que outros candidatos fizeram, ao longo da campanha, ao presidente dos EUA, Donald Trump, e seu ato fascista de construir um muro na fronteira para evitar que mexicanos entrem em território americano. Obrador, a mais notável figura do Movimento da Regeneração Nacional (Morena), preferiu bater na tecla de combate à corrupção, que corre solta, e prometeu recuperar uma economia cambaia que compromete 54% do PIB do país (no Brasil, tal comprometimento está na casa dos 80%). Deu certo a sua estratégia eleitoral, e assim chega ao final a hegemonia do Partido da Ação Nacional e do Partido Revolucionário Institucional.

“Nosso relacionamento será muito bom, vai nos ajudar na questão do muro na fronteira” De Trump para Obrador, ao telefone (Crédito:Divulgação)

Há, no entanto, uma razão também diplomática – e até pessoal – para que Obrador poupasse Trump. Se não chegam a ser amigos, entendem-se muito bem. Mais: economicamente, o México é dependente do governo americano. Está aí a principal razão de sua vitória não ter sido comemorada com tanto entusiasmo pelos governos da América Latina que ainda seguem a cartilha do demagógico populismo de esquerda. Obrador reverte a tendência que vem se formando em nações vizinhas, nas quais os eleitores tem optado pelo trilho político da direita e da extrema-direita. Haverá no México maior centralização do Estado, isso é claro, é elementar pelas cartilhas esquerdistas, mas o presidente eleito já busca acalmar o mercado. Poucos acreditam que radicalizará nas posições socialistas. Ao contrário: Obrador já declarou que arrefecerá nas críticas ao atual presidente, Enrique Peña Nieto, e fará referendo daqui a três anos: se o povo estiver contente com a sua gestão, ele fica; se estiver descontente, ele sai.

LAVA JATO
PF quebra o “clube do pregão”

Marivaldo Oliveira

O MPF e a PF realizaram, na quarta-feira 4, a Operação Ressonância. Objetivo: interromper o esquema de cartel que, segundo a PF, era formado por 33 multinacionais e vinha sendo liderado pelo empresário Miguel Iskin (rombo de R$ 1,2 bilhão nos cofres públicos em contratos fraudados com o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad). De acordo com o MPF, Iskin era o elo das empresas (naquilo que elas chamavam de o “clube do pregão”) com agentes públicos (entre eles, Sérgio Côrtes, ex-secretário no governo de Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro). Empresas gigantes como Johnson & Johnson, General Eletric (GE) e Philips integrariam o cartel. Vinte executivos foram presos no Rio de Janeiro, em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. Entre eles está o CEO da GE para a América Latina, Daurio Speranzini Júnior, que já foi diretor da Philips (foto). A GE afirma que não é alvo de investigação.

HISTÓRIA
A última foto do “Bruxo do Cosme Velho”

Divulgação

Sempre imaginou-se que a última fotografia de Machado de Assis, em vida, é a que mostra o escritor sendo acudido em um de seus ataques epiléticos, num banco da Praça XV, no Rio de Janeiro (à esq.). Data de 1 de setembro de 1907. Machado morreu aos 69 anos, em 29 de setembro de 1908. Na semana passada, no entanto, o pesquisador cearence Felipe Rissato localizou uma imagem mais recente na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional da Espanha. Tal imagem passa, então, a ser o último registro daquele que é um dos maiores escritores do mundo, apelidado “Bruxo do Cosme Velho” (bairro em que morava). Publicada na revista argentina “Caras y Caretas”, a foto é de janeiro de 1908(abaixo).

JUSTIÇA
Moro derrota Lula. Outra vez

Divulgação

Os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região impuseram nova derrota a Lula. O ex-presidente teimava em querer afastar o juiz Sergio Moro do julgamento da ação penal em que é acusado de ter ganho um apartamento na cidade paulista de São Bernardo e um terreno para o Instituto Lula, em São Paulo, como propina da Odebrecht. Lula queria que Moro se colocasse sob suspeição pelo fato de ter participado em Nova York do evento “Lide Brazilian Investment”, ao lado ao ex-prefeito João Doria, candidato ao governo de São Paulo. Os magistrados do TRF-4 consideraram que Moro não cometeu nenhum deslize por ter ido em maio ao evento, que nada teve de político nem de partidário.

ASTRONOMIA
O primeiro registro do nascimento de um planeta

Pela primeira vez na história da astronomia foi registrado o exato momento de nascimento de um planeta. Cabe o mérito a equipes de pesquisadores do European Southern Observatory e do Instituto Max Planck. O novo planeta orbitará uma “jovem estrela anã” (estrela que gera energia a partir de si mesma pela fusão de prótons e hidrogênio) e, na imagem, ele aparece “navegando” no gás e na poeira criados justamente por essa estrela. O registro foi feito por um telescópio Shere, o mais preciso em capturar movimentos de exoplanetas – ou seja, planetas que existem fora do nosso sistema solar.