Apesar das mentiras, da torcida contra, apesar da desídia na compra de doses e dos maus exemplos do presidente da República, o brasileiro escolheu se vacinar. Entre a imunização preventiva e a imunidade de rebanho, pretendida por Bolsonaro, o cidadão ficou com a vacina. Independente de governos e ideologias, o Brasil tem sido exemplar na adesão à imunização. Foi apostando na vacina que erradicamos a varíola, poliomielite, rubéola e o tétano neonatal. Esta semana, atingimos a marca de 60% de imunizados contra o coronavírus. A consequência da vacinação é visível e se traduz em vidas. A média diária de mortes ficou abaixo de 300 nas ultimas semanas. Estados como São Paulo e Tocantins começaram a comemorar dias sem registro de mortes.

Outro reflexo da vacinação é a redução expressiva do número de hospitalizados. Mas, enquanto o Brasil vive dias de otimismo e reabertura, outros países sofrem uma reviravolta que está sendo chamada de “A pandemia dos não vacinados”. Na Europa, França e Alemanha registram altas de casos com a desaceleração da imunização e a chegada do frio. Na Romênia e Bulgária, as mortes por Covid-19 já superam os óbitos do auge da pandemia.

Com 13 mil novos casos, a Áustria adotou medidas mais duras, como o confinamento dos que recusam a imunização, uma estratégia que deve colher bons frutos, pois, já no primeiro dia de lockdown, houve filas nos postos de vacinação. O cerco aos antivacina vai se fechando também nos Estados Unidos, país que descartou mais de um milhão de doses por falta de demanda. Alguns estados adotaram a vacinação obrigatória de servidores públicos. Até mesmo cidadãos que alegaram objeções religiosas para não tomar o imunizante estão perdendo a razão e a batalha nos tribunais americanos.

Até mesmo cidadãos que alegaram objeções religiosas para não tomar o imunizante estão perdendo a razão e a batalha nos tribunais americanos

Nesse sentido, nossa Suprema Corte já deu a primeira nota do que deve ser a toada contra os antivacina. Na última semana, o ministro Luís Roberto Barroso suspendeu liminarmente uma portaria do governo que proibia empresas de demitirem empregados não vacinados. O fundamento é de que a escolha de um não se sobrepõe ao direito de todos. Esse filme, nós vimos antes: na epidemia de varíola em 1904, houve revoltas pelo País promovidas pelos antivacina da época. Depois de mortos, presos e feridos, prevaleceu o bom senso e a chaga foi debelada com vacinação. Para vencer a pandemia de Covid, a sociedade encontrará meios de apartar e isolar os refratários, convencendo-os, pelo bem ou pela lei, a aderir ao pacto de saúde. Afinal, a vida tem que prevalecer, apesar dos negacionistas.