O aumento dos ruídos políticos entre ontem e hoje não foi capaz de abalar a ponta longa da curva de juros, com os investidores mantendo seu foco no exterior. As taxas caíram fortemente, cerca de 90 pontos, nos contratos a partir de 2025, uma vez que a chance de aprovação do pacote de US$ 2 trilhões do governo Trump pelo Senado americano cresceu após o fechamento do acordo e espalhou apetite pelo risco nos ativos globais. As taxas curtas também cederam, devolvendo prêmios na esteira do IPCA-15 (0,02%) de março abaixo da mediana das estimativas (0,07%). Com isso, a taxa do contrato para janeiro de 2021, de 3,41%, renovou sua mínima histórica.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 3,41%, de 3,68% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 terminou na mínima de 4,50% (ajuste ontem em 4,993%). O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 8,26%, de 9,083%.

A expressiva redução das taxas, contudo, não se deu com respaldo de grande volume, porque o mercado já passou por um movimento pesado de descarregamento de posições e, com o cenário ainda cheio de incertezas em função do coronavírus, a retomada da exposição ao risco se dá de forma bastante cautelosa. O quadro externo hoje deu oportunidade para o investidor buscar prêmios, mas o cenário fiscal, por outro lado não autoriza grande exposição.

Quanto aos ruídos políticos, após a reação negativa dos governadores ao pronunciamento ontem do presidente Jair Bolsonaro no qual minimizava o alcance da epidemia do coronavírus e condenava a atuação dos Estados com isolamento social e fechamento do comércio, não chegaram a estressar a curva. Na avaliação dos profissionais da área de renda fixa, a troca de farpas não ameaça ainda a governabilidade, tendo mais como pano de fundo o cenário eleitoral de 2022. Ainda, dizem, mal ou bem, o governo está cumprindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Por mais que Bolsonaro não queira quarentena e isolamento, tudo está sendo feito. O que tem sido feito está correto”, disse o operador de renda fixa da Terra Investimento Paulo Nepomuceno.

A agenda de indicadores do dia foi cheia, mas o que fez preço mesmo na ponta curta foi o IPCA-15 abaixo da mediana das previsões. Com queda de preços de serviços e administrados, o dado deu a senha para nova rodada de queda das taxas, ao reforçar a necessidade de prosseguimento nos cortes da Selic, especialmente diante da estimativa de piora da atividade por causa do coronavírus nos próximos meses. A expectativa é de que a epidemia eleve ainda mais a deflação dos serviços e preços monitorados, puxando para baixo o índice cheio em março. (Denise Abarca – denise.abarca@estadao.com)

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