O presidente americano, Donald Trump, encerrou nesta terça-feira (14) uma maratona pela Ásia sem contratempos, mas também sem qualquer avanço significativo que possa dissipar a incerteza que envolve sua estratégia para a região.

Os líderes asiáticos se esmeraram para atender ao presidente americano, especialmente sensível a pompa e reconhecimento.

“Foi um tapete vermelho como nunca se viu”, disse Trump, visivelmente orgulhoso, considerando sua viagem como “muito bem-sucedida”.

Golfe e jantar de gala em Tóquio, ópera e Cidade Proibida em Pequim para uma “visita de Estado” e, em Seul, um brinde presidencial em honra a um homem que “já está devolvendo sua grandeza à América”.

Nessa turnê, esse novato em diplomacia pouco afeito a longas viagens evitou dar passos em falso e pareceu bastante confortável.

Para além das fotos posadas, permanecem as dúvidas sobre o impacto concreto dessa viagem.

De Tóquio a Manila, passando por Seul, Pequim e Hanói, o presidente destacou duas prioridades: acentuar a pressão frente à ameaça nuclear norte-coreana e defender um melhor acesso das empresas americanas aos mercados asiáticos.

– ‘Nada mudou’ –

Em linhas gerais, contudo, o balanço desses 12 dias, que deve se consolidar com o tempo, pode ser modesto.

“Se comparar o antes e o depois da viagem asiática de Trump, nada mudou verdadeiramente [na questão da Coreia do Norte]”, disse à AFP Go Myong-Hyun, do Asan Institute for Policy Studies, um “think tank” com sede em Seul.

Primeiro sócio econômico de Pyongyang, “Pequim não prometeu nada novo […] e se mantém em sua posição”, aponta.

Alguns especialistas destacam, porém, que as conversas entre os presidentes das duas primeiras potências mundiais podem dar seus frutos em médio prazo.

“Xi Jinping recebeu Donald Trump muito bem, a relação entre ambos os países é relativamente estável. Nesse contexto, não rejeitará as demandas deste último em bloco”, avalia o professor Cheng Xiaohe, da Renmin University, em Pequim.

– ‘Calmantes’ –

Depois de Trump acusar seus antecessores democratas e republicanos de não terem sido suficientemente firmes durante décadas na área comercial, a questão agora é saber se o próprio conseguirá mudar esse quadro.

Pequim anunciou sua intenção de ampliar o acesso das empresas estrangeiras a seu setor financeiro, mas os pontos de bloqueio continuam sendo numerosos.

Consciente de não ter obtido concessões espetaculares, o presidente americano destacou um conjunto de contratos de US$ 300 bilhões. Muitos deles não passam, porém, de cartas de intenções e não alteram – a longo prazo – os déficits comerciais abissais dos Estados Unidos.

Cheng Xiaohe acredita que esses contratos sejam apenas “calmantes que oferecem um alívio temporário nas disputas comerciais entre China e Estados Unidos”.

De qualquer modo, no que diz respeito às relações geoestratégicas de longo prazo nessa região crucial para os Estados Unidos, a viagem foi decepcionante.

Em um grande discurso de Danang, no Vietnã, que lembrou seus comícios de campanha, nos quais alardeava “America First”, Trump apresentou seu país como uma vítima dos “abusos comerciais crônicos” e criticou com incomum violência os acordos multilaterais que “atam as mãos” de Washington.

Para Ryan Hass, ex-assessor de Barack Obama para a Ásia, a viagem presidencial reforçou a impressão de que “a região segue para frente e acelera, enquanto os Estados Unidos olham para trás”.

Hass cita, em particular, a decisão de 11 países de Ásia-Pacífico de pôr em marcha o Acordo Transpacífico (TPP) abandonado por Trump repentinamente, assim como os apelos de Xi Jinping de abraçar uma globalização “irreversível”, contrastando com o nacionalismo econômico de seu colega americano.