Apesar de escândalo de corrupção, extrema direita austríaca espera voltar ao poder

Embora tenham anunciado seu fim após o escândalo de corrupção “Ibizagate”, que obrigou o Partido da Liberdade da Áustria (FPO) a deixar a coalizão de governo há quatro meses, a sigla de extrema direita espera voltar ao poder após as legislativas antecipadas deste domingo (29).

Fundado por ex-nazistas e influenciado por correntes nacionalistas e liberais, o FPO mantém firme sua base eleitoral, que parece impermeável às acusações de corrupção contra seus dirigentes.

“O objetivo é pelo menos 20%” na eleição, afirmou Michael Oberlechner, um representante do partido em Viena, observando com satisfação os militantes reunidos na última sexta-feira (27) em torno das mesas de madeira espalhadas para a “Festa da Cerveja” do partido.

Neste evento de campanha, estiveram presentes o novo chefe do partido, Norbert Hofer, mas também, e de maneira mais surpreendente, seu antecessor Heinz-Christian Strache, que caiu em desgraça há alguns meses e é celebrado pela militância.

Strache, o homem que levou a extrema direita ao poder em 2017 na coalizão com a direita de Sebastian Kurz, também foi quem mergulhou a legenda em uma crise inédita.

Em maio passado, um vídeo filmado em Ibiza revelou conversas dele com uma mulher que se apresentou como a sobrinha de um oligarca russo. Strache explicava a ela como financiar o FPO sem declarar.

Forçado a abandonar a presidência do partido que dirigiu por 14 anos e a deixar seu posto de vice-chanceler no governo, este vienense de 50 anos se mantém onipresente na batalha eleitoral travada pela extrema direita para voltar ao poder. Sua mulher, Philippa, pela primeira vez candidata, foi impulsionada para o terceiro lugar na lista do FPO em Viena.

– “Todos têm seus escândalos” –

“É uma pena por Strache, porque descobriram, mas todos os partidos políticos têm seus escândalos”, relativiza Manfred Schneider, um bancário de 55 anos, resumindo um sentimento muito frequente entre os simpatizantes do FPO ouvidos pela AFP.

Para o analista político Johannes Huber, “ninguém acha escandaloso o que Strache diz na gravação, mas o fato de ter sido pego”.

“Interessa mais saber quem está por trás da armadilha do que o conteúdo do vídeo”, completou.

Dez dias depois de os veículos alemães “Der Spiegel” e “Süddeutsche Zeitung” terem revelado o “Ibizagate”, o FPO obteve 17% nas eleições europeias, um recuo muito limitado em comparação ao pleito anterior, em 2014, quando obteve 19,7%.

Para as legislativas de domingo, aparece com 20% das intenções de voto, um resultado que marcaria uma clara perda de apoio em relação a 2017 (26%). Ainda assim, não se pode dizer que seria uma grande perda.

Esta resiliência da sigla chama a atenção dos observadores da vida política austríaca.

“A época em que a base do FPO era feita de eleitores contestadores faz parte do passado. O partido soube construir uma base importante de eleitores fiéis”, comenta a revista semanal “Profil”.

Para o jornalista Armin Wolf, da televisão pública, a receita do FPO e dos partidos populistas reside em sua capacidade de seduzir os eleitores, “não apenas apesar de seus escândalos, mas precisamente graças a esse tipo de comportamento” que destoa do “politicamente correto”.

O FPO foi criado em 1956, a partir da União dos Independentes. Nos primeiros anos do Pós-Guerra, reunia ex-nazistas privados de seus direitos cívicos. Seu primeiro líder foi um ex-oficial da Waffen-SS, o corpo de combate de elite das Schutzstaffel de Hitler.

A sigla transcendeu as fronteiras da Áustria no fim dos anos 1980, muito antes da onda de extrema direita europeia destes últimos anos. Com a chegada de Jörg Haider ao governo, tornou-se uma máquina de guerra eleitoral baseada em slogans xenófobos.

Strache assumiu o comando do partido em 2005. Ligado aos neonazistas em sua juventude, desenvolveu um discurso identitário e hostil ao Islã e desempenhou um papel-chave para aproximar os partidos nacionalistas na Europa, assim como com a Rússia.