As chuvas fortes se tornaram motivo de angústia para o professor de idiomas Marco André Briones, que viveu mais da metade dos seus 55 anos em Moema, zona sul de São Paulo. Há oito meses, Briones viu da janela do seu apartamento, no 14.º andar, o momento em que a aposentada Nayde Pereira Capelano, de 88 anos, morreu em um alagamento, dentro do carro, na Rua Gaivota. Neste final de semana, ele sofreu com os transtornos causados pelo vendaval de sexta-feira e que ainda deixam mais de 400 mil pessoas sem energia elétrica na capital.

A Enel Distribuição São Paulo informa que restabeleceu a energia para 83% dos clientes que tiveram o fornecimento impactado após o vendaval da última sexta-feira. Até o momento, cerca de 1,7 milhão de clientes tiveram o serviço normalizado, de um total de 2,1 milhões afetados na última sexta-feira.

“Quando começa a chover. Eu fico desesperado. Eu não saio de casa e fico ligando para amigos e vizinhos para saber se todos chegaram e estão bem”, conta.

No episódio trágico do dia 9 de março e que não sai da cabeça dos moradores, o carro de Nayde ficou submerso durante a forte chuva. A vítima sofreu uma parada cardiorrespiratória.

O alerta de chuvas fortes também assusta a professora Karina Barone, de 50 anos. “Ninguém mais fica tranquilo quando chove”, confessa.

Nesta segunda-feira, 6, o cruzamento das ruas Gaivota e Rouxinol, local da tragédia do início do ano, parecia um canteiro de obras. Os sinais do vendaval ainda eram evidentes três dias depois. Funcionários da concessionária Enel faziam reparos na fiação enquanto a Prefeitura tentava retirar o tronco da árvore que desabou. Alguns estabelecimentos tinham luz; outros, não. E os semáforos estavam desligados em vários quarteirões.

De acordo com a Enel, o vendaval que atingiu a área de concessão no dia 3 de novembro foi o mais forte dos últimos anos e provocou danos severos na rede de distribuição. A previsão de normalização do fornecimento para quase a totalidade dos clientes é nesta terça-feira , conforme anunciado em reunião com o prefeito de São Paulo.

Em outros pontos da cidade, as árvores ainda não foram retiradas, o que aumenta o temor de novos transtornos. É o caso da rua Itajará, na Vila Andrade, também na zona sul. O tronco gigantesco tombou postes, interditou a rua e comprometeu a estrutura dos muros de dois condomínios, um de cada lado da rua. Equipes da Enel informaram que aguardam uma autorização para retirar o tronco, que bloqueou o trânsito.

Enquanto isso, moradores ocupavam a esquina com a rua José Ramon Urtiza, perto da Avenida Giovanni Gronchi, cobrando uma solução. Há relatos de moradores sobre falta de funcionários da empresa para desernegizar as redes atingidas por árvores e acelerar o trabalho da prefeitura de liberação das ruas. A Enel informa que, “devido à complexidade do trabalho para reconstrução da rede atingida por queda de árvores de grande porte e galhos, a recuperação ocorre de forma gradual”, com prioridade para os casos mais críticos, como serviços essenciais.

“Não temos condições físicas nem psicológicas de trabalhar. Pode acontecer algo ainda pior”, diz o empresário Diogo Machado, de 41 anos.