O presidente Jair Bolsonaro fez da extinção dos velhos hábitos da política um mantra em sua campanha. Acertadamente, elegeu como um dos maiores males o desvio do dinheiro público nas suas mais diferentes formas. Acreditando em seu discurso, o eleitor elegeu-o com grande votação. Iniciada a gestão, porém, Bolsonaro e os demais integrantes do novo governo encontram-se na obrigação de dar uma resposta aos eleitores. Antes, eles não estavam envolvidos com a corrupção pública por convicção ou por falta de oportunidade? Porque, quanto a denúncias de pequenas situações que envolvem privilégios e apadrinhamentos, já há uma série de situações moralmente questionáveis. É um tal de filho de vice-presidente promovido e triplicando o salário, amigas dos filhos do presidente guindadas a cargo estratégicos e até indicações de primeira-dama sendo referendadas pelo mandatário do País.

A mais rumorosa delas envolve Antonio Hamilton Rossell Mourão, filho do vice-presidente Hamilton Mourão. Esta semana, ele foi promovido ao cargo de assessor especial da presidência do Banco do Brasil. Funcionário de carreira do banco, triplicou o seu salário decorridos somente dez dias de mandato de seu pai. Galgou de uma remuneração de R$ 12 mil, como assessor da Diretoria de Agronegócios, para um salário agora de R$ 36,3 mil. O filho do vice-presidente tem 19 anos de banco. Hamilton Mourão diz que ele era perseguido nas gestões petistas e que só agora seu mérito está sendo reconhecido – uma meia-verdade, já que o rebento foi promovido oito vezes nas gestões passadas.

Não há nada de ilegal na promoção do filho do vice-presidente. Não é um caso clássico de nepotismo, porque não há uma interferência direta de Mourão. Mas é um evidente mau exemplo em um governo preocupado em vender ares de austeridade. Que chegaram até mesmo à opção de Bolsonaro de assinar seu termo de posse com uma caneta esferográfica comum. O presidente não ficou nada satisfeito com a notícia. ISTOÉ apurou que ele se sentiu traído ao saber da promoção do filho de seu vice. Mourão teve de se explicar pessoalmente. Afirmou que não sabia da promoção. Mas defendeu o filho. Expressou-se também nesse sentido nas redes sociais. “Meu filho, Antônio, ingressou por concurso no BB há 19 anos. Com excelentes serviços, conduta irrepreensível e por absoluta confiança pessoal do presidente do Banco foi escolhido por ele para sua assessoria. Em governos anteriores, honestidade e competência não eram valorizados”, postou ele.

Entra e sai na Apex

O mais preocupante é o que o episódio envolvendo o filho do vice-presidente não é um ponto fora da curva em termos de acolhimento questionável de amigos e parentes. Mesmo a mulher do presidente, Michelle, já emplacou uma amiga, Priscila Gaspar, no Ministério dos Direitos Humanos, da ministra Damares Alves. Com problemas auditivos, ela foi nomeada secretária da Pessoa com Deficiência. A amiga já vinha trabalhando como tradutora de Libras na campanha do capitão então presidenciável.

Fora do critério ordenado, de escolha técnica, o próprio Bolsonaro lançou mão da quota pessoal de apadrinhados. Na segunda-feira 7, o Diário Oficial trouxe a nomeação de Letícia Catelani na Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex). Ela ocupará o cargo de diretora executiva. Letícia, muito próxima de Eduardo Bolsonaro, ganhou importância na batalha das redes sociais durante a campanha. Seu esforço foi reconhecido. Outro apaniguado do deputado Eduardo Bolsonaro para a presidência da Apex, Alecxandro Carreiro, pode não ter tido a mesma sorte. Por não saber falar inglês, foi demitido na primeira semana de governo. Resta saber se a exoneração será sacramentada. Até a quinta-feira 10, Carreiro relutava em largar a cadeira. Em nota, disse que o chanceler não tinha autonomia para demití-lo.

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“À mulher de César não basta ser honesta. Tem de parecer honesta”, ensinava o romano Júlio César. Assim devem proceder os governos e todos os seus integrantes. Sobretudo aqueles que esticaram ao máximo a corda da moralidade e, agora, correm o risco de com ela enrolarem o próprio pescoço.

 


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