A agência de notícias americana Associated Press (AP) questionou nesta sexta-feira (5) os argumentos apresentados pelo Exército israelense para justificar os ataques a um hospital no sul da Faixa de Gaza, em agosto, que custaram a vida de cinco jornalistas palestinos, incluindo uma colaboradora da AP.
Em 25 de agosto, 22 pessoas, incluindo cinco jornalistas, morreram em bombardeios israelenses contra um edifício do hospital Nasser de Khan Yunis, segundo as autoridades da Faixa de Gaza.
No dia seguinte ao ataque, o Exército israelense informou que estava fazendo uma “investigação inicial” realizada por seus próprios meios. Depois indicou que os bombardeios foram realizados para “eliminar (uma) ameaça” detectada com “uma câmera colocada pelo Hamas (…) para observar a atividade das (suas) tropas” com o objetivo de atacá-las.
No entanto, em um despacho publicado nesta sexta-feira, a AP escreveu que os resultados de suas próprias investigações “questionam seriamente” a versão do Exército israelense, em guerra contra o movimento islamista palestino Hamas em Gaza desde que este atacou Israel em 7 de outubro de 2023.
A AP lembrou que a parte superior do edifício atingido pelo Exército israelense é “um local conhecido” por ser utilizado por jornalistas, especialmente para realizar transmissões ao vivo.
Segundo testemunhas, o local é “frequentemente” sobrevoado por drones, e isso ocorreu “cerca de 40 minutos antes do ataque”, acrescenta o artigo.
A agência citou um oficial militar israelense que, sob condição de anonimato, declarou que o Exército chegou a pensar que uma câmera no telhado do hospital era utilizada pelo Hamas porque esta e seu operador estavam cobertos com uma toalha, o que foi considerado “suspeito”.
Na realidade, tratava-se de um jornalista que colaborava com a agência britânico-canadense Reuters, Hossam al-Masri, e que tinha o costume, ao trabalhar no telhado do hospital, de cobrir seus equipamentos com um lenço ou tecido para protegê-los do sol e da poeira, como fazem vários de seus colegas.
Al-Masri deveria ter sido facilmente identificado pelo drone que sobrevoou o local antes do primeiro ataque, que provocou sua morte, aponta a AP, ao especificar que não encontraram evidências de outra câmera nesse local no dia da tragédia.
– “Decisões inquietantes” –
A agência indicou ter descoberto “outras decisões inquietantes” israelenses.
“Pouco depois do primeiro ataque, as forças israelenses atacaram novamente a mesma posição, após [a chegada] das equipes de resgate [e dos] jornalistas que correram para cobrir o evento”, escreve a agência.
A AP detalhou que Israel atacou no total “quatro vezes” o hospital com “projéteis de tanque altamente explosivos” e sem nenhum aviso.
A agência assinala que isso expõe Israel a acusações de “duplo ataque”, uma prática que busca causar o maior número de vítimas possível e que poderia constituir um crime de guerra.
Mariam Dagga, fotojornalista independente que colaborava com a AP, morreu nesses últimos ataques.
Consultado pela AFP sobre este artigo, o Exército israelense remeteu ao seu comunicado de 26 de agosto, no qual indicava que o chefe do Estado-Maior havia “dado a ordem de continuar investigando várias lacunas”, incluindo “o processo de tomada de decisões no terreno” e “as armas utilizadas para o ataque”.
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