Com 60 anos, o senhor Black já mostra sinais de músculos cansados, sintomas de artrose e passa por exames para detecção de possíveis problemas cardíacos. Para um chimpanzé que já conviveu com duas esposas, essa é uma idade bastante avançada, mas Black não é o único “ancião” do Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, de Sorocaba, cidade do interior de São Paulo. O zoo completa 50 anos de fundação como uma “arca de Noé” de animais longevos e tem um projeto para que vivam bem seus últimos anos.

Mel, uma macaca africana da espécie mandril, de face colorida, que ficou famosa com o filme “O Rei Leão”, é uma idosa de 45 anos e tem diabetes. Ela precisa tomar insulina todos os dias e, para reduzir o estresse do tratamento, passou por um treinamento. Agora, Mel se posiciona automaticamente para receber a aplicação da substância sob a pele. A macaca é alimentada com uma dieta especial e passa por exames regulares para controle da glicemia. A primata já teve catarata nos olhos e voltou a enxergar após uma cirurgia.

O casal de elefantes Sandro e Haisa chegaram ao zoo em 1991, já com idades avançadas. Na natureza, um desses paquidermes vive em média 40 anos, mas em cativeiro pode chegar a 60 anos. Essa é a idade estimada de Haisa, que veio resgatada de um circo. Sandro é mais jovem, tem 45 anos, mas já passou o tempo médio de vida na natureza. “Eles recebem alimentação balanceada para evitar a obesidade e são estimulados a fazer alguns exercícios”, conta o médico veterinário André Costa, responsável pelo zoo.

O programa de bem estar dos animais idosos inclui exames para diagnosticar problemas degenerativos, renais, cardíacos e o câncer. “Um animal idoso, assim como o ser humano, fica mais vulnerável a doenças por conta da idade. Cuidamos para que ele possa viver mais tempo com qualidade”, disse Costa. É também o caso do casal de hipopótamos Yuri e Yara. Ele com cerca de 40 anos, ela com 46, chegaram à terceira idade após terem gerado 13 filhos que foram doados ou emprestados a outros zoológicos brasileiros para programas de preservação da espécie.

Na sexta-feira, 21, Yuri passou por tratamento dentário – em razão da idade, ele desenvolveu uma gengivite. O animal também foi condicionado a se apresentar para o tratamento sem necessidade de anestesia. O recorde de longevidade entre animais do zoo pertence a três pelicanos – aves que se caracterizam pela bolsa sob o bico. A idade limite desses grandes pássaros em vida livre é de 20 anos, mas os espécimes de Sorocaba já estão em cativeiro há 40 anos.

Para o veterinário, esse é um indicativo de que o programa de bem-estar animal dá resultados. “Com esses cuidados, o zoológico exerce o papel semelhante ao da passagem bíblica da Arca de Noé, preservando e garantindo a reprodução de animais que estão ameaçados de extinção”, disse.

Segundo Costa, acompanhar o envelhecimento dos animais ajuda a entender o processo de senilidade do próprio homem. “Há pesquisas científicas que correlacionam doenças humanas e animais, como o câncer e moléstias infecto contagiosas. Existe aí um campo para descobertas e avanços científicos”, avalia. Inaugurado em outubro de 1968, o zoo de Sorocaba tem 1,2 mil animais de 300 espécies.