Nesta quinta-feira (1º), Luiz Caldas lançou Pó de Estrelas, o 104º álbum da série ininterrupta de lançamentos mensais que ele realiza desde 2013. O disco é de reggae, conta com a participação de oito músicos baianos na execução dos instrumentos e traz letras que abordam a desigualdade social e o desrespeito ao próximo que nasce da intolerância diante das diferenças. “As pessoas deveriam sacar que o que torna tudo bonito é exatamente o fato de nada nem ninguém ser igual um ao outro, a diversidade é o grande barato”, comenta Luiz.

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Todos os discos do projeto são disponibilizados nas plataformas digitais e no seu site www.luizcaldas.com.br.  O projeto soma mais de mil músicas e atualmente ultrapassa a marca de 30 milhões de downloads. Juntando aos álbuns de carreira, Luiz Caldas soma 122 discos lançados. “Tenho prazer imenso em explorar a música nos seus inúmeros gêneros e venho contando com grandes parceiros para realizar isso”, comemora.

Entre os artistas que já participaram do projeto estão Gilberto Gil, Seu Jorge, Zélia Duncan, Zeca Baleiro, Geraldo Azevedo, Roberta Campos, Armandinho Macedo, Fernanda Takai, Chico Cesar, Jorge Vercillo, Raimundo Sodré, entre outros. Nando Reis e Leo Gandelman são nomes que estrão nos próximos lançamentos de novembro e dezembro.

50 anos de carreira

Nascido em Feira de Santana (BA), desde muito cedo, aos sete anos, Luiz Caldas escolheu a música como caminho a ser seguido ou, algumas vezes, perseguido. Foi o que teve que fazer no início da adolescência quando viu sua voz mudar, o que impediu que continuasse cantando em bailes e imitando o tom agudo de estrelas como Michael Jackson ou Tina Charles, como só ele sabia fazer. “Eu me desesperei e pensei: preciso aprender a tocar instrumentos para continuar na música”, conta.

Dos 11 aos 16 se deu, então, sua formação como instrumentista, período em que se dispôs a trabalhar como holding, carregando caixas e instrumentos para grupos de baile em que ele identificava ter aquele instrumentista de destaque com quem pudesse aprender. “Se eu soubesse que naquele grupo tinha um baixista muito bom, então ia até eles e pedia para trabalhar, nem que fosse só para dormir nos galpões que eram sede do grupo, comer e aprender. Minha facilidade e vontade de aprender era algo fora do comum, bastava ver o cara tocando uma vez, e à noite eu ficava treinando. Desse jeito se deu com todos os instrumentos que toco até hoje”.

Aos 16 anos ele subiu pela primeira vez num trio elétrico sem saber que naquela engrenagem musical sua vida daria uma reviravolta. A estreia foi em Ibicaraí (BA), mas logo a notícia correu para Salvador. Ligaram para Seu Orlando Tapajós e disseram que tinha um menino que solava muito e tocava todos os instrumentos. “Naquela época eu tocava os frevos de Armandinho na guitarra grande, era como entrar com um Fusca numa corrida de Fórmula 1, coisa de maluco. Então seu Orlando mandou me chamar, e eu cheguei tocando tudo, com sete cores no cabelo, ele adorou. Virei o garoto dos sete instrumentos e assim começou minha história com o trio Tapajós”.

Axé music

No Tapajós, em pouco tempo Luiz Caldas se tornou guitarrista e diretor musical. Em linha ascendente, revolucionou a sonoridade do trio, inseriu instrumentos como o piano, criou a banda Acordes Verdes e gravou três álbuns, um deles, o “Ave Caetano – Tapajós”, onde teve pela primeira vez composições suas gravadas, Oxumalá e Tapafrevo. “Importante lembrar que foi no Tapajós que nasceu a canção Axé pra Lua, embrião da Axé Music”, realça Luiz.

Daí em diante, o universo dos blocos e trios elétricos passou a ser um ambiente em que o artista se sentia muito à vontade, e assim fez história no Traz os Montes, Eva, Camaleão e Beijo, bloco lançado por ele. “O primeiro disco com meu nome foi o Luiz Caldas e Acordes Verdes, compacto do Beijo, e nele estava o meu primeiro sucesso sozinho, a música Beijo, que ficou conhecida pelo refrão Acordes Verdes leva o povo atrás trio, nessa dança lança e lança e o beijo a mais de mil”.

A essa altura a gravadora WR já começava a fazer jus ao título que veio a ganhar de templo da música baiana, e lá estava Luiz Caldas e sua banda criando e gravando, até nascer Magia (1985), o álbum que começaria a escrever um novo capítulo na história da música da Bahia, e daria ao artista o posto de Pai da Axé Music.

O disco era tão promissor que, antes mesmo de ser lançado, todas as suas músicas já eram acompanhadas em coro pela plateia nas apresentações que o artista fazia no circo Troca de Segredos. Algumas canções estavam nas rádios e, apesar de não ser um disco de Carnaval, Luiz decidiu colocar Fricote como sua última faixa. “Eu nunca gostei de fazer uma coisa só, e eu fazia músicas também para palcos como o TCA, e num desses shows, o Verso e Reverso, encerrei tocando Fricote. O áudio foi captado e, no dia seguinte estava sendo tocado na Itapuã FM. A receptividade foi incrível”

O certo é que quando Magia foi oficialmente lançado, todas as suas músicas já estavam na boca do povo na capital e no interior. Só as vendas na Bahia renderam ao álbum um Disco de Ouro (100 mil cópias). Após um lançamento no estado, em 1984, houve um lançamento para o Brasil, em 1985. “Foi um álbum emblemático para a minha carreira e para todos que vieram a cantar Axé”, confirma o artista.

No início de 2020, Luiz Caldas completou 50 anos de carreira, marco comemorado com três grandes shows em Salvador, quando o artista recebeu grandes nomes da música baiana, como Gilberto Gil, Moraes Moreira, Carlinhos Brown, Armandinho, Gerônimo, Durval Lelys e Ricardo Chaves, além da banda A Cor do Som.

Confortável na sua rotina de compor, ensaiar, gravar e fazer shows pelo Brasil, Luiz também tem tempo para sonhar com novos projetos. Um deles tem a ver com um namoro promissor que vem se dando entre o artista e a Orquestra Sinfônica da Bahia (OSBA). Com seu vozeirão inconfundível, ele garante. “Vem novidade boa aí”.