21/06/2024 - 8:00
O filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, um dos mais celebrados intelectuais de esquerda do século XX, está com 102 anos de idade. No auge da juventude, aos 24, escreveu o romance autobiográfico intitulado L’année a perdu son printemps. Ao concluí-lo, engavetou-o. Setenta e oito anos se passaram, e Morin resolveu publicá-lo. Segundo seus editores, o texto juvenil já “ilumina a construção psíquica, intelectual e política de um dos maiores pensadores de nosso tempo”. Na livro, Morin aparece camuflado sob o nome do personagem Albert Mercier — que é o herói da história. “Eu sempre soube que tinha inteligência para trabalhar nas ciências humanas, mas duvidava de que tivesse talento para ser um romancista”, declarou Morin recentemente. A sua principal obra foi escrita ao longo de três décadas e meia e é tida como uma das melhores de todos os tempos no campo da epistemologia. Tem seis volumes e chama La Méthode.
PERSONAGEM
Quem sabia do Rio de Janeiro era ele
A Flip estava em débito com um dos principais intelectuais brasileiros — e que jamais posou como tal, ironizando os que assim o faziam. Agora, em 2024, corrige esse vazio. O homenageado será a personalidade faltante: o escritor e jornalista Paulo Barreto, leia-se o inigualável João do Rio, que se imortalizou como o um dos principais cronistas de um Rio de Janeiro saído da escravatura e entrado na República. Anos mais tarde, bem mais tarde, vê-se em outro excelente cronista, Antonio Maria, não herança de texto, mas, digamos, a herança da verve de João do Rio. Ele ocupou a cadeira 26 da ABL (foi o segundo a nela sentar; o primeiro, Laurindo Rabelo), perscrutou como poucos a alma dos brasileiros e desnudou o precário republicanismo da cidade à sua época. Era preto e homossexual, fez-se difícil a faina. Enquanto repórter, foi um dos pioneiros dos cadernos 2 (outro posterior grande nome é o de Mario Faustino com Poesia Experiência). João do Rio transformou em notícias fatos, baseadas em reportagens. Nasceu em 1881 e morreu em 1921, em seu Rio de Janeiro, então capital do País.
HOMENAGEM
Chico em campo
O poeta, escritor (Prêmio Camões de Literatura), compositor e cantor Chico Buarque fez 80 anos na quarta-feira, dia 19.
Que bom para o Brasil que Chico, entrado na adolescência, participou de uma “peneira” em um time de futebol (se não me engano, no Juventus), mas ficou assustado de topar com um esporte onde o inevitável contato corporal o faz violento. Ele queria ser jogador. Desistiu.
Assim que começou a aparecer publicamente, Chico tinha um cacoete: quando em pé, mantinha um de seus braços dobrado para frente na altura da cintura, e a mão, desse braço, pendida para baixo. Motivo: era assim que seu ídolo, o craque Pagão, parava em campo.
Quando os militares pesaram a barra em 1968, Chico asilou-se na Itália. Lá, foi motorista de Garrinha. Participava dos treinos e ganhava uns trocados. Não se diga que ele não foi profissional do futebol: jogava e recebia.
No início da carreira agradeceu em LP ao “limão galego”, que tinha a fama de melhorar a voz lesada pelo excesso de cigarros (Luiz XV sem filtro) e pelos gritos nos “gols do tricolor”.
Montou um time de futebol de botão: o Politeama. E montou um time de gente: o Politeama. Registra a história, segundo Chico, que a equipe nunca perdeu.
Chico fez o hino do Politeama: (Politeama, Politeama, o povo clama por você/ Politeama, Politeama, cultiva a fama de não perder)
O Brasil não ganhou novo Pagão, mas, sim, um de seus maiores intelectuais, agora octogenário.