Jair Bolsonaro é, e declara ser, amigo de décadas de Fabrício Queiroz, o miliciano preso que operava as rachadinhas do bolsokid Flávio e depositava cheques na conta da primeira-dama. Daí, chamo-o em minhas colunas de “amigão do Queiroz”, e dizem que sou ofensivo.

Bolsonaro é pai de Flávio, senador investigado por peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, que acaba de comprar uma mansão de R$ 10 milhões por R$ 6 milhões. Daí, o chamo em minhas colunas de “pai do senador das rachadinhas”, e dizem que sou ofensivo.

Eu chamo Jair Bolsonaro de “verdugo”, que significa: indivíduo responsável pela execução da pena de morte; que inflige maus-tratos. Ele incentiva a população a enfrentar o vírus de peito aberto e diz “e daí?” sobre 260 mil mortos. E eu sou acusado de ser ofensivo?

Eu chamo Jair Bolsonaro de “psicopata”, que significa: indivíduo com padrão comportamental antissocial e diminuição da capacidade de empatia/remorso. Pergunto: onde é que eu estou exagerando na adjetivação? Mas daí, dizem que sou ofensivo nos meus textos.

Eu também chamo o mito(?) de “devoto da cloroquina” e de “maníaco do tratamento precoce” porque ele é. Ou não é? E se tanta gente lhe apoia e acha que está correto, por que raios isso é “ofensivo”? Deveria ser considerado como reconhecimento dos fatos.

Bolsonaro me chama de maricas, me manda enfiar latas de leite condensado no fiofó e me manda à PQP, dentre outras ofensas públicas ainda mais grotescas. Isso tudo simplesmente sendo o Presidente da República. Mas eu, um reles desconhecido, não posso retrucar?

Essa semana, em mais um show de desumanidade e grosseria bruta, Bolsonaro disse que é “mimimi” o lamento de milhões de enlutados, e os intimou: “Vão ficar chorando até quando?”. Mas não parou: gargalhou, literalmente, de um suposto aumento no número de suicídios.

Particularmente, conheço dois casos próximos, e tenho um amigo muito mais do que querido que convive, diariamente, com essa ameaça dentro de casa. Como suportar uma cretinice, de um cretino desses, calado? Como não desejar mal e externar, publicamente, meu desejo?

Que maldita inversão de valores é essa em curso no Brasil, onde a autoridade máxima pode pisotear impunemente seu povo, mas o contrário é considerado “ódio”. Bolsonaro é apenas um servidor público – péssimo; dos piores – e não está acima de críticas, ainda que ácidas.

Este sujeito afronta a democracia, afunda a economia do País, incentiva uma espécie de suicídio em massa, com suas atitudes e conselhos sobre Covid, não provê vacinas, fecha leitos de UTI, contra verbas da Saúde, ofende os mortos e enlutados, e quer respeito?

Quando um sujeito na grande imprensa, como eu, ou como o Hélio Schwartsman, externa um sentimento tão ruim quanto desejar a morte ou doença a alguém é porque, bem antes disso, os agentes de direito, que deveriam agir para manter o equilíbrio social, se omitiram.

É porque o Parlamento brasileiro e o Poder Judiciário permitiram – como ainda permitem – que o Chefe de Estado comporte-se como um arruaceiro de quinta categoria, e promova todos os dias cisão social, negacionismo, obscurantismo, ignorância e, aí, sim, ódio. Muito ódio.

Por isso, srs. bolsominions, bolsoloides, bolsonáticos e afins, que infestam as redes sociais com mentiras, ofensas, ameaças e estupidez, ou seja, com bolsonarismo-raiz, não venham agora fazer beicinho porque desejei que o “mito” contraísse uma nova e severa Covid.

Até porque, convenhamos, ele pede por isso. Trabalha por isso. Faz por onde isso acontecer, com ele e com dezenas de milhões de brasileiros. Só estou a desejar aquilo que ele deseja, para mim e para todos nós, todos os dias: doença, morte, falta de vacina, falta de leitos etc.