Mulheres estão mais interessadas em vinhos e espumantes. A constatação é de Suzana Barelli, jornalista especializada, observando mais amigas em restaurantes acompanhadas de taças, do que dez anos atrás. À parte do “lado social”, a sommelier Flavia Maia identifica o aumento do interesse feminino pelas complexidades técnicas. E se não existem estatísticas quanto às mulheres no mercado de vinhos, Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), diz que é perceptível o crescimento do número de confrarias femininas na região de Garibaldi-RS, onde mora, por exemplo. Um dado preciso, levantado por Andrea Mazaro, da Associação Brasileira de Sommeliers, diz respeito aos inscritos nos cursos em São Paulo: para 2023, 43% são mulheres.

Flavia tem um grupo de 50 amigas que ficam mais à vontade para perguntar nos jantares temáticos onde se alternam em dez, uma vez por mês, formando olfato, paladar e “demonstrando satisfação por aprender a escolher e indicar vinhos sem medo”. A sommelier também detecta esse interesse feminino “ávido” nos eventos corporativos que promove. Suzana Barelli, que participa de uma confraria feminina desde 2005, observa que com o tempo o aspecto técnico de degustação deu lugar aos encontros pela amizade e o vinho se tornou “coadjuvante”. Para ela, as confrarias femininas tendem a durar menos que as masculinas, pela dificuldade em manter a peridiocidade. “Os encontros são marcados e desmarcados, porque aparecem imprevistos com filhos, por exemplo. Isso é muito feminino. Os homens são mais regulares nos encontros, por décadas.” Ainda assim, o número de confrarias vem aumentando, segundo a jornalista, com algumas muito atuantes, como a mineira Luluvinhas, com perto de 12 mil seguidores no Instagram.

NO CONDOMÍNIO Grupos de Flavia Maia se reúnem para jantares mensais temáticos, com harmonização de vinhos (Crédito:Divulgação)

Para o presidente da ABE, o consumo de vinho no Brasil já tinha se intensificado antes da pandemia — que acabou contribuindo ainda mais para a expansão do mercado. “Se tínhamos 1,8 a 2,0 litros/ano, por habitante, em 2021 aumentou para 2,8. Parece uma diferença pequena, mas representou muito em volume de comercialização. Depois, o crescimento foi mais lento e estável”, diz Ricardo Morari. Derrubado o estereótipo do “gosto de mulher é mais para o doce”, o público feminino pode contribuir para que o Brasil passe a 3,0 litros/ano. As confrarias exclusivas estão se multiplicando rapidamente, percebe o enólogo. “Em passado recente, a grande maioria era formada por homens, mas agora são muitas confrarias femininas surgindo. E o interesse se estende além de sommeliers, para formação profissional voltada a produção, atuação em vinícolas, marketing, mercado.”