Sou judeu! E jamais deixaria de me insurgir contra algo – ou alguém – que equivalha a antissemitismo, ainda que, no caso, implicasse em me indispor com quem tão gentilmente me recebe em sua casa.

Me refiro à revista IstoÉ, que me acolheu há quase dois anos em seu website, onde diariamente eu ‘exorcizo meus demônios internos’. E lembro: meu primeiro contato com a publicação não foi dos melhores. Explico.

Justamente por causa de uma matéria, que eu e outros judeus interpretamos como ofensiva, assinei, a pedido da Federação Israelita de Minas Gerais, uma carta de repúdio e a enviei aos editores da revista.

Meses após esse episódio – importante: a carta foi integralmente publicada -, através do convite de um executivo da Editora Três (responsável pela IstoÉ), tornei-me um de seus principais colunistas digitais.

NAZISMO

À época, recebi uma saraivada de críticas da comunidade judaica, justamente pelo ocorrido anteriormente. Ontem, após a divulgação da capa da edição desta semana, onde Bolsonaro é caracterizado como Hitler, mais confusão.

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Alguns amigos judeus, indignados pela comparação, me procuraram: ‘Como você pode aceitar isso calado?’. Bem, eu lhes respondi (com uma pergunta): aceitar exatamente o quê, hein? A resposta: silêncio, seguido de tergiversação.

O fato é que absolutamente nenhum deles leu a matéria ilustrada pela capa – que é polêmica, sim! Deixaram-se levar pelo que viram e pelo que lhes foi soprado aos ouvidos em grupos de WhatsApp (bolsonaristas, claro).

O (des)governo Bolsonaro não é nazista e o ‘mito’ não é Hitler. Contudo, ambos adotam práticas e posturas semelhantes ao nazismo, sim, senhor! Eu mesmo já escrevi a respeito e nenhum judeu, à época, me encheu o saco. Por quê?

INDIGNAÇÃO SELETIVA

Fico aqui a me perguntar: tamanha suposta indignação não tem a ver mais com preferências políticas do que com religião? O evento pregresso – a tal matéria a que me referi acima – não seria a verdadeira razão de tanto barulho?

Ora, como refutar o que publica a IstoÉ, se amparada em fatos reais e provas documentais? Especificamente a questão dos ‘experimentos científicos’, algo espetacularmente assombroso, que é simplesmente inquestionável?

Trazer à lembrança a imagem do demônio nazista é sempre ruim e, dentro do possível, deve – e pode! – ser evitado. Mas quando isso não ocorre, não há motivo para revolta meramente baseada em uma inexistente equiparação.

Relativizar Hitler e o nazismo é algo asqueroso. Aliás, a depender da maneira, é até crime. Inclusive no Brasil. Mas, repito: onde foi que a revista fez isso? E mais: alguém aí se lembrou das vítimas (de carne e osso) do bolsonarismo?

APLAUSOS

Olhem aqui: se eu considerasse inadequadas – sob a ótica de uma equiparação indevida e reducionista do nazismo – a capa e a matéria da IstoÉ, tenham certeza de que seria o primeiro a escrever, criticando a abordagem.

Porém, não só não considero a reportagem e a ilustração inadequadas, como aplaudo o conteúdo e felicito os autores e editores pela coragem e ousadia de chamar aquilo que lembra o nazismo, pelo nome de… nazismo!


Aliás, muito do que aí está deve-se à leniência e ao descaso com que Bolsonaro e suas ideias e ideais foram tratados durante os quase 30 anos em que foi um reles deputado. Hoje, no Poder maior do País, continua a ser quem foi.

Se a Política, a Justiça e a Sociedade Civil não são capazes de dar um ‘basta!’ às práticas genocidas, homicidas e, sim!, análogas ao nazismo, praticadas pelo atual desgoverno, que ao menos aplaudam as vozes contrárias. Eu aplaudo! Clap, clap, clap, IstoÉ!


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