O Banco Central anunciou na última quarta-feira (29) a criação da nota de R$ 200. Segundo a autarquia, a medida deve ajudar a “atender ao aumento da demanda por dinheiro em espécie que se verificou durante a pandemia de Covid-19”.

No entanto, especialistas alertam que a implantação da nota no mercado pode favorecer a corrupção no país.

O procurador de Justiça em São paulo e presidente do Instituto Não Aceito Corrupção, Roberto Livianu acredita que a nova cédula ajudará no transporte de valores obtido de forma ilícita em geral.

“Quando você fala em nota de R$ 200, a mão de obra para o transporte em dinheiro fica muito mais fácil”, afirma ao UOL.

Em contrapartida, Carolina de Assis Barros, diretora de Administração do BC, disse que a nota não facilita a corrupção.

“Nós temos um arcabouço de combate e prevenção à lavagem de dinheiro extremamente avançado e ele não é dependente apenas do valor de denominação das cédulas”, afirmou.

Para se ter um exemplo, o procurador usou o caso de Geddel Vieira Lima (MDB), que foi condenado por associação criminosa e levagem de dinheiro. Em 2017, a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões em um apartamento dele em Salvador, na Bahia.

“Geddel com certeza ficaria muito feliz se essa medida tivesse sido tomada algum tempo atrás, porque facilitaria a vida dele. Você imagina a mão de obra que deu para ele juntar R$ 51 milhões. Com a nota de R$ 200, ficaria muito mais fácil”, diz o procurador.

Outro ponto desfavorável para a cédula é o posicionamento de outros países, os quais tomaram o caminho contrário em relação ao Brasil. Marcelo Issa, cientista político, advogado e diretor executivo da organização Transparência Partidária dá um exemplo do Conselho do Banco Central Europeu que, em 2016, decidiu que os países do bloco deveriam deixar de produzir cédulas de 500 euros.

“Foi uma medida que contou com o respaldo e foi sugerida pelo organismo europeu de luta antifraude”, afirmou. “O Canadá tinha uma nota de 1.000 dólares canadenses e a retirou de circulação justamente por essa razão. Singapura fez a mesma coisa. O Reino Unido está no processo de discutir formalmente, já com procedimentos instaurados, para cancelar a nota de 50 libras”, disse o cientista político ao UOL.

Issa ressaltou que a medida pode beneficiar outros crimes. “Todas essas iniciativas ilícitas preferem as notas maiores em função da maior facilidade de ocultação e de transporte”, disse.

O BC também usou como justificativa para a criação da nota o entesouramento, ação de guardar o dinheiro em casa. A atitude vem acontecendo no País por conta das incertezas causadas na pandemia. Com isso, a ideia de ter o dinheiro em espécie na mão traz uma sensação de segurança para as pessoas.