Os olhos de Antônio Aguillar sempre souberam qual imagem deveria estar no foco. Fotógrafo do jornal O Estado de S. Paulo entre os anos 1950 e 1960 – admitido depois de um teste proposto pela redação: uma foto e uma legenda de um quiosque de flores -, ele iria acumular um dos mais respeitáveis portfólios dentre seus parceiros enquadrando da cantora francesa Edith Piaf e o escultor Victor Brecheret aos atores Paulo Autran e Tônia Carreiro, formações dos sonhos da seleção brasileira, festas da alta sociedade paulistana, geadas destruidoras do café de Londrina, desfiles no Vale do Anhangabaú, gestações de Roberto e Erasmo Carlos, inauguração do Parque do Ibirapuera, vindas de papas e prisões de demônios.

Quando uma cena se pôs ainda desfocada ao fundo desse primeiro plano deslumbrante, sua moderna Rolleiflex não se intimidou. As rádios dos anos 1950 já vibravam com os primeiros reflexos do rock and roll no Brasil. Apaixonado pelo rádio, Aguillar tentou primeiro um emprego na Eldorado, do Estado, mas um superior argumentou que sua voz não tinha o padrão dos locutores. Ele seguiu então para a Rádio 9 de Julho, começando de baixo, escrevendo notas para Joelmir Beting, e, de lá, para a Rádio Excelsior, como locutor de comerciais. Mais um pulo seria dado, então, para outra emissora, a Rádio Nacional, onde Aguillar começaria outra fase de sua vida à frente do programa Ritmos Para a Juventude, que o teria como líder por 20 anos.

O Ritmos Para a Juventude estava na primeira leva de programas que antecipavam um fenômeno. Aguillar havia ficado fascinado com o filme Rock Around The Clock (Ao Balanço das Horas), com Bill Halley e seus Cometas, e entendeu que, ali, não havia nada de pecado, como pregavam a Igreja, a ala tradicional da música brasileira e boa parte da sociedade. A plateia se aglomerava em uma longa fila para participar do programa, aos sábados, e dos concursos de dança que “o Timoneiro da juventude” criava.

Ao ver a histeria que provocava, o também locutor Silvio Santos quis saber como Aguillar conseguia ter um auditório lotado mesmo sem levar grandes nomes, segundo narra o livro Histórias da Jovem Guarda, escrito pelo próprio locutor e por Debora Aguillar e Paulo Cesar Ribeiro, de 2005. Aguillar respondeu: “É só dar aos jovens aquilo de que eles gostam, rock and roll”. Segundo o mesmo livro, foi em 1961, no auditório de Aguillar, onde o twist começou a ser divulgado em São Paulo. “Até então, as pessoas só podiam vê-lo no cinema.” A reação ao sucesso do programa era pesada. Um panfleto distribuído à porta do auditório dizia o seguinte: “Decidimos mostrar aos leitores o que é rock and roll, dança alienígena, que está, pela publicidade científica e planificada, influenciando e envenenando grande número de jovens desprevenidos ou simplesmente abandonados pelos pais e autoridade…”. E era só o começo da revolução, graças também às lentes de Aguillar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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