Altruísta e guerreiro em campo, Antoine Griezmann personifica o espírito da seleção francesa na Copa do Mundo: uma equipe resiliente apesar de seus desfalques e que vem mostrando novos caminhos dentro do próprio elenco, prestes a enfrentar o Marrocos nas semifinais nesta quarta-feira (14).

O jogador viveu quatro anos irregulares da última Copa na Rússia até o Catar, com uma passagem frustrante pelo Barcelona seguida de um retorno complicado ao Atlético de Madrid, sobretudo pela recorrência de lesões musculares, as primeiras em sua carreira.

Porém, no Catar, o atacante parece ter reencontrado o bem-estar, mostrando o mesmo sorriso do Mundial de 2018 e um impressionante vigor físico que lhe permite multiplicar esforços.

“Quando estou bem fisicamente, minha cabeça fica muito melhor”, contou Griezmann no início de dezembro.

“Não tenho problemas na minha vida pessoal ou na minha cabeça. Tive momentos difíceis no Barcelona, depois tive que me diminuir quando voltei ao Atlético. Tentei me encontrar um pouco. Agora, estou totalmente confiante”, acrescentou.

– A aposta de Deschamps –

A confiança do camisa ‘7’ está ligada ao técnico Didier Deschamps, que vem apostando no jogador desde 2014.

A semifinal contra o Marrocos representa a sua 73ª partida consecutiva de invencibilidade com os ‘Bleus’, um recorde provavelmente inigualável.

“Dou tudo por essa camisa, pela França, mas também por ele (Deschamps)”, garantiu o jogador, acrescentando que “cada partida, cada ação, é como um ‘obrigado’ que envio a ele”.

De artilheiro da Eurocopa de 2016 e Mundial de 2018 à figura imprescindível no meio de campo francês, Griezmann tem assumido papeis defensivos na equipe, mas sem deixar de colocar sua criatividade no ataque.

No Catar, o atacate passou a jogar mais como armador, dando opção para Adrien Rabiot e Aurelien Tchouameni, movimento que aparece como a aposta mais inesperada do técnico francês neste Mundial.

Desde a estreia de Griezmann na seleção, Deschamps nunca havia escalado o seu homem de confiança em uma posição tão recuada.

Esta arriscada opção, no entanto, surgiu para suprir a falta de profundidade no meio de campo com a ausência de Paul Pogba e N’Golo Kanté, mas também permite que a equipe disponha de outros três atacantes: Kylian Mbappé, Olivier Giroud e Ousmane Dembelé. Um desequilíbrio assumido, mas que vem dando muito certo.

– Nova função, novas responsabilidades –

Por seu volume de jogo, Griezmann registra um número incalculável de chutes ao alvo e ajuda a aumentar as entradas na área adversária. E, apesar de seu temporário papel defensivo, se apresenta como um criador de jogadas bem arquitetadas, que quando combinadas com o poder finalizador de Mbappé, Giroud e Dembélé, resultam em gols, como o segundo marcado na vitória por 2 a 1 sobre a Inglaterra, nas quartas de final.

Na véspera da partida contra o Marrocos, Deschamps está seguro de que precisa do camisa ‘7’ em plena forma.

“Vamos precisar que amanhã ele esteja tão bem quanto tem se mostrado”, apontou.

“Ele é o tipo de jogador que realmente pode mudar uma equipe porque trabalha muito. Ele gosta tanto de defender quanto atacar e ser o criador no jogo. É alguém que pensa sempre no coletivo acima de tudo”, disse o treinador em coletiva de imprensa nesta terça-feira (13).

Apesar de ainda não ter marcado gols no torneio, o atacante mostra que não caiu nas estatísticas da competição, pois é o que mais concedeu assistências (3) antes das semifinais. Além de ter superado Thierry Henry no número absoluto de assistências pela seleção, chegando a 28.

O seu bom-humor no torneio lhe acrescentou uma nova responsabilidade no vestiário: a de ser um líder para os jogadores mais jovens e para os reservas, dando exemplo em campo, mas também através de seus discursos na concentração.

Seja em sua nova função em campo ou em sua liderança no vestiário, Griezmann terá a oportunidade de guiar os ‘Bleus’ rumo à sua segunda final seguida, quiçá, o bicampeonato mundial consecutivo.

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