Mevlude Aydin ainda não consegue visitar os túmulos de sua filha, de seu marido e de dezenas de familiares que perdeu no terremoto catastrófico ocorrido na Turquia há um ano.

Ver sua cidade natal de Antioquia, na província de Hatay, resumida a um punhado de ruínas irreconhecíveis, ainda é traumático demais para esta mulher de 41 anos.

“Nossa Hatay desapareceu. Desapareceu totalmente”, conta ela em uma das casas feitas de contêineres habilitadas pelo governo para acolher os sobreviventes desta província arrasada.

“Quero ir ao cemitério visitar nossos filhos, mas simplesmente não posso. Simplesmente não quero ver a cidade neste estado. Passo mal. Meus níveis de açúcar disparam”, afirma.

O desastre de 6 de fevereiro matou mais de 50.000 pessoas e varreu do mapa cidades inteiras no sudeste de Turquía.

Nenhum lugar foi tão afetado como Antakya, nome turco desta cidade cercada por montanhas, berço das civilizações cristã e muçulmana, conhecida ao longo da história como Antioquia.

Mais de 20.000 pessoas morreram nesta urbe, que perdeu 90% de seus edifícios, e na província que a rodeia.

Os sobreviventes devem lidar com o trauma em assentamentos formados por centenas de casas idênticas que parecem contêineres de carga.

As famílias têm acesso à água potável e energia, que o governo oferece gratuitamente.

Mas o forte dispositivo policial que guarda as entradas dão a estas pequenas cidades de metal o aspecto de um campo de prisioneiros.

– ‘Veremos dias melhores’ –

As autoridades locais calculam que a população de Hatay encolheu de 1,7 milhão antes do terremoto para 250.000. Em novembro, aproximadamente 190.000 viviam em casas de contêineres.

Muitos dos que permanecem não têm familiares em outras partes da Turquia aos quais poderiam recorrer, ou simplesmente são muito apegados à sua terra.

Mas o lugar guarda poucas semelhanças com o que era antes do primeiro terremoto de magnitude 7,8.

Antioquia, uma animada cidade com uma vibrante vida noturna e arquitetura antiga, transformou-se em uma mistura de enormes espaços vazios e escombros de edifícios derrubados.

No bazar Uzun Carsi, um labirinto parcialmente coberto de 1.500 lojas que foi uma importante parada da antiga Rota da Seda, há poucos vendedores.

As autoridades querem começar a demolir em maio o que sobrou do edifício por precaução. O plano é erguer em seu lugar um novo bazar mais seguro.

“Com sorte, veremos dias melhores e teremos inclusive um mercado mais bonito”, afirma o presidente da associação de comerciantes, Mehmet Hancer Gunduz. “Eu acredito nisso.”

– Brincadeira de criança –

Mustafa Kassab, dono do restaurante Umut Et, destruído e depois reerguido apenas com madeira e ferro, pensa que levará pelo menos uma ou duas gerações para Antakya voltar a se parecer com o que era, e também para a retomada dos negócios.

“As pessoas ainda não puderam superar o efeito psicológico do terremoto”, diz Kassab. “E financeiramente, o dinheiro é curto.”

Yazgin Danisma consegue ver a dor sendo refletida nas brincadeiras de seus três filhos nas ruas pavimentadas e sem vida que atravessam as fileiras de contêineres.

“Ouço os meninos falando entre eles de ir embora. Mas eu ainda pretendo viver em Antakya”, diz a mulher de 31 anos.

“Os meninos desenvolveram medo. Quando brincam, o jogo sempre termina com um suposto terremoto”, afirma.

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