Com curadoria de Marcus Lontra, mostra ‘Sobre as Coisas do Mundo’ reflete o seu trabalho sobre a condição humana

“Nos alimentamos dos mortos. Estou em silêncio, permaneça em silêncio, tenho medo desse silêncio. Derradeiro silêncio.” A inscrição está presente na obra Solitude, do jovem artista paulista Andrey Rossi que, na sexta-feira, 28, ganhou a segunda mostra individual da carreira na OMA Galeria, em São Bernardo do Campo.

A grande novidade da mostra, intitulada Sobre as Coisas do Mundo, além das obras inéditas, é claro, é o fato de que Andrey tem ganhado cada vez mais visibilidade institucional em museus de todo o País. Nos últimos anos, suas obras estiveram em exposições na Funarte, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Na feira SP-Arte deste ano, uma obra de Andrey foi adquirida por um colecionador e doada para o Museu de Arte do Rio, o MAR. Em outra feira, a Art New York, ele teve também o seu trabalho exposto e, no próximo semestre, vai ganhar uma mostra individual em Nova York, na Galeria de Babel.

“Todo artista busca ter obra em instituições”, analisa Andrey. “É um selo de reconhecimento de que seu trabalho está tendo uma projeção e fazendo uma diferença”, acredita. Para ele, o fato de expor em feiras, neste início de carreira, é mais importante do ponto de vista de conseguir visibilidade do que, de fato, a parte comercial. “Neste momento, é mais importante ter a visibilidade de curadores do que o comércio.”

Para Andrey, a oportunidade que ele teve com o MAR mostra uma mudança de olhar das instituições. “Ficam muito fechadas nos artistas mais consagrados, que já não precisam tanto de holofote. Acho muito importante o olhar para artistas mais jovens. É uma passagem. A arte precisa dessa transição.”

Doutorando pela Universidade Estadual de Campinas, Andrey leva para a sua nova exposição individual trabalhos mais experimentais, fruto de sua pesquisa acadêmica. São trabalhos realizados ao longo do último ano. “Minha pesquisa ganhou novos desdobramentos e vejo novas potencialidades emergindo, algo que se relaciona com o atual momento em que vivemos.”

A mostra conta não apenas com as pinturas, como também Estranha Condição, feitas com tinta óleo sobre tela. A sala expositiva se torna uma grande instalação, com uma luz baixa. Já na entrada, há um vídeo, em preto e branco, e um desenho sobre um tecido, numa espécie de sudário.

Segundo Andrey, foi o vídeo que originou as pinturas. “O trabalho surgiu como um desdobramento de um experimento que fiz em vídeo, uma mídia que nunca tinha trabalhado”, explica. “Sou um pintor por essência, senti vontade de fazer uma série de pinturas que fossem fragmentos deste vídeo.”

A exposição, de acordo com o artista, tem o intuito de parecer mais minimalista. “Cada uma das obras tem muitos signos. Pensei em ter poucas justamente para não ficar congestionado.”

Para o curador da mostra, Marcus Lontra, o trabalho de Rossi é, principalmente, sobre a condição humana. “Andrey fala da fome, da tristeza e do abandono, mas sugere também a possibilidade da redenção”, analisa. “Nessa estranha condição humana, persiste um traço de beleza, um resquício de esperança.”

Andrey confessa que nunca havia pensado o seu trabalho desta forma, mas que concorda com as palavras do curador. “Faz sentido. Meu trabalho sempre falou sobre essas questões. Há a angústia, mas também a ternura, como um ponto de esperança.”

Segundo ele, o tema é um desdobramento da sua pesquisa de mestrado. “Foi sobre o peso da vida. Pensei que viver era uma carga muito pesada, dada por nós mesmos e pelo mundo acima de nós.”

A exposição, gratuita, fica em cartaz na OMA até agosto, mês em que Andrey Rossi embarca para a Alemanha, onde fará uma residência artística e já tem, pelo menos, cinco participações em exposições programadas, entre 2019 e 2020.

Serviço:

Sobre as coisas do mundo. OMA Galeria. Rua Carlos Gomes, 69 – São Bernardo do Campo/SP. Tel. 97153 -3107. 3ª a 6ª, 12 às 19h. Sáb. 10 às 15h. Gratuito. Até 10/8.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.