A Polícia Federal realizou uma perícia nas agendas e cadernetas do ex-deputado federal Sérgio Raimundo Tourinho Dantas e encontrou citações que envolvem o ministro do TCU, Aroldo Cedraz. O material foi apreendido na 45ª fase da Lava Jato, na qual Sérgio Dantas figurava entre os principais alvos. Dantas é investigado pela Lava Jato junto com seu ex-sócio, o advogado Tiago Cedraz – filho do ministro Aroldo Cedraz –, por terem recebido propina num negócio entre a empresa norte-americana Sargent Marine e a Petrobras.

ISTOÉ teve acesso à perícia. Nas agendas há registros que indicam que a parceria de Sérgio Dantas com a família Cedraz transcendeu a sociedade com Tiago Cedraz. Numa das anotações, ele diz ter atuado para tornar Aroldo Cedraz ministro do Tribunal de Contas da União. “Pinna e eu fomos os motores estratégicos da vitória de seu pai”, escreveu Dantas como se estivesse falando diretamente com Tiago Cedraz. “Seu pai no TCU foi uma ideia sua que achei ótima quando ninguém aqui achava, nem seu pai”, acrescentou. Segundo a investigação dos agentes federais, Dantas escrevia tópicos que seriam abordados em reuniões com Tiago. A PF ainda não descobriu quem seria a pessoa identificada como Pinna nas anotações de Sérgio Dantas.

ALVO Tiago Cedraz está na mira da Lava Jato por negociação com Petrobras (Crédito:Renato Costa/Folhapress)

Há, ainda, indicações de que Dantas teria contribuído para que Aroldo saldasse dívidas de campanhas eleitorais: “Ajudei campanhas do seu pai a quitar dívidas com clientes de Zuleido e CCR”. A referência seria ao empreiteiro Zuleido Veras, da Construtora Gautama. A CCR, diz o documento da PF, foi citada em delação premiada do lobista Adir Assad, que afirma que uma empresa sua de produções teria sido intermediária em contratos de patrocínio com diversas categorias de automobilismo no Brasil entre 2009 e 2012. É a primeira vez que o nome de Aroldo Cedraz é citado na Lava Jato. A Polícia Federal ainda vai aprofundar as investigações para identificar o alcance das ilegalidades na relação entre Sérgio Dantas e a família Cedraz. O ministro do TCU assumiu o cargo em 3 de janeiro de 2007, depois de ter sido indicado pela Câmara dos Deputados, confirmado pelo Senado e nomeado oficialmente pelo ex-presidente Lula. Na época, ele renunciou ao cargo de deputado federal para se tornar ministro do Tribunal de Contas da União.

“ABSURDA” O ministro Aroldo Cedraz rechaça influência de Dantas (Crédito:Valter Campanato/Agência Brasil)

Tiago e Dantas encerraram a sociedade e não trabalham mais juntos. Mesmo após o rompimento, os dois ex-sócios permanecem sendo investigados por participação no esquema de contratação da Sargent Marine pela Petrobras. Em documento recente enviado à PF, em que comunicava uma viagem ao exterior, Dantas reforçou seu interesse de prestar todos os esclarecimentos necessários. Tiago Cedraz tem negado envolvimento em atos ilícitos e disse nunca ter recebido vantagens indevidas. Procurado por ISTOÉ, o ministro Aroldo Cedraz respondeu, por meio da assessoria de comunicação do TCU: “O Ministro esclarece que foi eleito de forma democrática e constitucional para a vaga de Ministro do Tribunal de Contas da União preenchida por indicação da Câmara dos Deputados, após votação no plenário da Casa pelos colegas parlamentares, ratificada pelo Senado Federal”. Segundo Cedraz seria “completamente absurda a assunção de que qualquer pessoa que não detinha mandato parlamentar, à época, pudesses influenciar qualquer resultado”. Com a palavra, a PF.