Essas são algumas das principais obras da escritora francesa Annie Ernaux, que recebeu nesta quinta-feira (6) o Prêmio Nobel de Literatura.
– “Os Armários Vazios” (1974) –
Seu primeiro livro, publicado em 1974. Baseado em fatos reais, explica o aborto clandestino que viveu quando era estudante.
Em um estilo curto e seco, explica detalhadamente o aborto como um fracasso, uma forma de humilhação.
A protagonista, Denise Lesur, é uma jovem estudiosa que vive sua gravidez como um obstáculo para seus sonhos de emancipação.
O livro apresenta em detalhes o ato de interrupção da gravidez, que lhe valeu o título de “obsceno” em sua época.
Outros livros emblemáticos surgirão desse aborto: “O Acontecimento” (2000), adaptado para o cinema por Audrey Diwan, que ganhou o Leão de Ouro na Mostra de Veneza em 2021.
– “Uma Mulher Congelada” (1981) –
Annie Ernaux continua seu trabalho de autoficção em “Uma Mulher Congelada” (1981), com a memória da transição da juventude para a vida adulta, de uma adolescente cheia de sonhos para uma mulher congelada, após o casamento.
Ernaux julga a sociedade em que vive como patriarcal. Explica a descoberta das diferenças sociais entre homens e mulheres, a violência dessa desigualdade. O livro narra o naufrágio de seu casamento e o papel de uma esposa na França na década de 1970.
– “O Lugar” (1983) –
O livro começa com Annie Ernaux passando no concurso universitário, algumas semanas depois que seu pai faleceu. Em “O Lugar” Ernaux retrata esse homem. E em “A Mulher” fala de sua mãe.
Ernaux é apresentada em “O Lugar” como uma “traidora de classe” porque consegue deixar para trás suas origens humildes.
Seu pai era um camponês analfabeto que deixou o campo para administrar um pequeno comércio.
Annie Ernaux conseguiu subir na escala social graças aos estudos e ao casamento. A diferença de centros de interesse, de atividades e de círculos sociais criou uma lacuna entre pai e filha que ambos não conseguiram superar.
– “Os Anos” (2008) –
É considerado seu trabalho mais importante.
Relembrando sua vida, Ernaux pinta o retrato de toda uma geração, a dos filhos da guerra, marcada pelo existencialismo da década de 1950 e pela libertação sexual da década seguinte.
Ernaux se lembra de objetos, músicas, até programas de televisão.
“É a narrativa da minha vida, mas também de milhares de mulheres que também buscaram liberdade e emancipação”, explicou ela à AFP em maio de 2022.
– “Memória de Menina” (2016) –
Com este livro Annie Ernaux lança-se em busca da “menina de 58”. Nas primeiras páginas avisa o leitor: o que vai ler “é o texto que ainda falta. O que foi adiado. O buraco indizível”.
Aquele texto que faltava, há 50 anos, é a perda da virgindade da protagonista, em 1958.
Uma jovem “desajeitada” que mal sabia nada sobre a vida fora de sua Normandia natal.
Não é apenas a descoberta do erotismo, mas a primeira incursão brutal no mundo adulto.