Coluna: Matheus Baldi

Mineiro, Matheus Baldi é jornalista e apresentador, com passagens por UOL, SBT, Record e Band. Com mais de 4 milhões de seguidores nas redes sociais, já ultrapassou os 2 bilhões de visualizações em seus vídeos na internet. Diariamente, Matheus compartilha sua visão apurada e informações exclusivas sobre os bastidores do show business.

Anitta, Pai de Santo bolsonarista, Gloria Perez demitida e TV conservadora

As tensões entre fé, política e diversidade andam moldando o presente — e o futuro —de produções do entretenimento

Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Neste domingo, dia 6, a participação do pai de santo da cantora Anitta, Sérgio Pina, em um evento de manifestação liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e que pede a anistia dos envolvidos nos atos golpistas do dia 8 de janeiro acabou gerando uma grande repercussão nas redes sociais.

Dono de terreiro na baixada fluminense, o religioso subiu no palanque acompanhado de Michelle Bolsonaro que o apresentou como “representante da religião matriz africana”.  Pina revelou ter ‘anos de convívio’ com a ex-primeira-dama do Brasil.

A enorme onda de críticas na internet evidencia como, muitas vezes, a sociedade tende a associar crenças pessoais à orientação política, ignorando a complexidade dessas relações. A reação a presença de Sérgio Pina demonstra como, rapidamente, se traçam conexões entre as atitudes de um líder religioso e toda a comunidade à qual ele pertence — neste caso, a candoblecista — e até mesmo à artista (Anitta) com quem mantém vínculo. A cantora passou a ser questionada por sua relação com um líder espiritual que é assumidamente de direita.

Evangélica, Michelle também não escapou das críticas por aparecer de mãos dadas a um mentor espiritual do candomblé. 

A situação expõe manifestações de intolerância religiosa e reforça estereótipos que ainda persistem. O apoio de um pai de santo a um político identificado com pautas conservadoras desafia expectativas e destaca a diversidade de pensamento dentro das religiões de matriz africana. 

Na semana passada, o Padre Júlio Lancelloti também foi duramente criticado por aceitar receber um passe de uma mãe de santo durante uma participação em um programa de TV.

Esse debate acontece, justamente, em um momento de transformação do que o público vem consumindo, em especial, quando se trata do entretenimento televisivo. A crescente influência de pautas mais conservadoras — impulsionada, em parte, pelo avanço do crescimento dos evangélicos no Brasil — tem refletido, inclusive, na programação da televisão brasileira. A Globo, por exemplo, optou por não seguir com uma novela de Gloria Perez, cujo enredo abordaria o tema do aborto, segundo a autora o “tema foi considerado inadequado para as novas diretrizes da emissora”. Em comum acordo, ela e o canal optaram pela resilição do contrato.

Curiosamente, a mesma Gloria Perez que foi pioneira em incluir personagens evangélicos em novelas do horário nobre, como em América (2005), com a personagem Creuza, vivida por Juliana Paes. Embora a abordagem, na época, tenha sido diferente do ideal de hoje, a autora sempre fez questão de retratar a pluralidade de crenças em suas obras.

Na Globo, o sucesso de audiência e repercussão de Vai na Fé — novela das 19h que mergulhou no universo gospel com leveza e representatividade — foi entendido como indicativo do grande potencial dessas “novas” narrativas na TV aberta. Por outro lado, temas como diversidade sexual passaram a ser tratados com mais cautela, possivelmente para evitar divisões entre diferentes parcelas do público.

Além das pesquisas internas, o atento diretor Amauri Soares, número 1 dos Estúdios Globo, também observa o desempenho das emissoras concorrentes. A Record, por exemplo, tem alcançado bons índices com a novela turca Força de Mulher, que tem chegado a ultrapassar os 10 pontos de pico. A trama aposta em valores familiares e histórias de superação, elementos que parecem ressoar com um público que valoriza narrativas mais tradicionais.

Na contramão, Vale Tudo, clássico da dramaturgia brasileira que ganhou remake na faixa das 21h da Globo, ainda busca emplacar. Na última sexta-feira, dia 4, marcou apenas 18 pontos em São Paulo — bem abaixo dos 30 desejados antes da estreia, segundo fontes do canal. Ainda em fase inicial, a novela tem espaço para crescer, mas já enfrenta o desafio de dialogar com essa audiência que está em plena transformação.

Outro caso simbólico é a frustração da Band com os números de Beleza Fatal. Sucesso no streaming por seu tom ousado e moderno, a novela está longe ter o mesmo desempenho na TV. Nos bastidores da emissora do Morumbi, há quem acredite que Café com Aroma de Mulher, escalada para substituir a trama e que tem uma história clássica e romântica, está mais alinhada aos gostos desta importante fatia do público mais conservador que vem consumindo televisão aberta.

Esse conjunto de situações aponta para uma reconfiguração no comportamento do telespectador brasileiro. Em um cenário de múltiplas plataformas e interesses fragmentados, as emissoras também estão aprendendo e tentando dosar inovação com tradição.

Ainda assim, é essencial que as nossas produções no audiovisual mantenham espaço para temas diversos e discussões relevantes. Como bem defende Gloria Perez, a arte tem o papel de refletir a sociedade em suas múltiplas dimensões — e isso inclui a liberdade de abordar temas complexos e plurais. Em seu comunicado nas redes sociais, a autora fez questão de reforçar que tanto ela quanto a Globo estão de portas abertas para novas parcerias — e a gente torce para que venham logo.

A chave está em encontrar um ponto de equilíbrio: respeitar a realidade e o comportamento do público, mas sem abrir mão da importante missão de representar a riqueza de tantas vozes que compõem esse nosso imenso Brasil. Tarefa desafiadora, mas possível.

Falando nisso…

Afastada das novelas desde Tempo de Amar (2017), Regina Duarte está cotada para voltar em Três Graças, próxima trama das nove da Globo. Segundo o colunista Flavio Ricco, a reaproximação da atriz, que foi secretária de Cultura no governo Bolsonaro, ganhou força após ser incluída nos eventos de comemoração dos 60 anos da emissora.

Uma dúvida

Com rumores da volta de Regina Duarte às novelas da Globo, minha pergunta é: Cassia Kiss também retorna? Faz uma falta danada.

Na música também…

Pesquisa Genial/Quaest mostra que até a preferência musical segue dividida: bolsonaristas preferem música religiosa (23%) e lulistas, samba e forró (27%). Mas sertanejo é o ponto de encontro: 30% dos bolsonaristas e 28% dos lulistas gostam. A pesquisa foi coordenada pelo cientista político Felipe Nunes.

Record lança nova série 

Estreia hoje, às 22h45, na Record, Neemias, produção bíblica derivada de A Rainha da Pérsia. Com apenas cinco episódios, a produção conta a história do eunuco e copeiro real que lidera a reconstrução de Jerusalém.

Inclusive…

O talentoso ator Wolney Oliveira, que tive a alegria de conhecer nos tempos em que vivia na minha amada cidade de Itabirito (MG) e que já esteve nas novelas Vai na Fé (Globo) e Dona Beija (Max), está no elenco de Neemias interpretando Zabai — um homem de fé que enfrenta provações para conduzir sua família no caminho de Deus. A informação é do competente jornalista Romeu Arcanjo, do site Radar Geral.

Data marcada

O Power Couple Brasil 7 estreia no próximo dia 28 na tela da Record sob comando inédito dos ex-globais Felipe Andreoli e Rafa Brites. O reality que testa os limites dos casais em desafios de convivência e resistência tinha parado de ser produzido pelo canal em 2022.

O grito do Sul  

Rua do Pescador, nº6, novo documentário de Bárbara Paz, teve première na última sexta-feira, dia 4, no festival É Tudo Verdade, em São Paulo. A produção registra o rastro da maior tragédia climática da história do RS, que afetou mais de 470 cidades. O filme é uma coprodução da BP Filmes com Morena Filmes, Canal Brasil e GloboNews, com distribuição da Lança Filmes. 

Viola Davis em casa no Brasil

Após passagem pelo Morro da Urca para o lançamento de G20, Viola Davis compartilhou vídeo ao som de pagode e agradeceu ao Rio: “Cidade vibrante, com hospitalidade e espírito incomparáveis”. O filme estreia em 10 de abril. Declaração foi publicada pela brilhante atriz em seu perfil no Instagram.

Até amanhã.