SONHO A paulista Nancy Kato e a carioca Bruna Berford: presença marcante no maior estúdio de animação do mundo

O novo longa “Luca”, da Pixar, o maior estúdio de animação do mundo, tem como cenário o pequeno vilarejo de Cinque Terre, na riviera italiana. Em meio à equipe sediada em São Francisco, nos EUA, no entanto, era possível ouvir um outro sotaque: o brasileiro. O filme prega a tolerância e a aceitação de quem é diferente, história que lembra a das desenhistas Bruna Berford e Nancy Kato. Hoje elas vivem nos EUA e alcançaram o topo no universo da animação: atuam no departamento criativo de computação gráfica na Pixar, responsável pelos movimentos dos personagens. Fazem parte de uma geração sem fronteiras que cresceu com a Disney e hoje participa cada vez vez mais das grandes e globalizadas produtoras do Vale do Silício.

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A carioca Bruna chegou aos EUA há nove anos, com o sonho de ingressar no estúdio que ganhou seis dos últimos dez Oscars na categoria. “Trabalhei com realidade virtual até que a oportunidade apareceu em 2020. Nunca pensei que meu desejo se realizaria em plena pandemia”, diz Bruna. Já a paulista Nancy Kato fez um caminho diferente: formou-se em arquitetura pela USP e, após o mestrado em computação gráfica em Nova York, foi para Los Angeles trabalhar com efeitos especiais — participou até do famoso filme de Natal da Coca-Cola estrelado por ursos polares. Há vinte anos está na Pixar, onde têm “Up” e “Toy Story 2” no currículo. “Foi especial trabalhar em ‘Luca’ porque já estive pessoalmente em Cinque Terre”, lembra. “Foi uma dica de viagem do próprio diretor Enrico Casarosa, que conheço há anos.”

MENTORIA Alex Simões, da DreamWorks: desenhos em “Poderoso Chefinho 2” (acima) e aulas online para
jovens em todo o mundo (Crédito:Divulgação)

A trajetória de Alex Simões é parecida: após se formar em desenho industrial, em São Paulo, trabalhou como freelancer para uma empresa canadense. Logo mudou-se para Vancouver e começou a desenhar cenas de “Gato de Botas”, da DreamWorks, e “Hotel Transilvânia 3”, da Sony. Outro brasileiro lhe abriu as portas nos EUA: Alex foi contratado pela Blue Sky, empresa de Carlos Saldanha, criador de “A Era do Gelo” e indicado ao Oscar por “Rio”. “Após uma entrevista com o próprio Saldanha, fui contratado para trabalhar em ‘Um Espião Animal’. Isso me rendeu o convite para voltar a DreamWorks, mas como funcionário fixo”, lembra Alex. Seu próximo projeto é o aguardado “O Poderoso Chefinho 2”, que estreia em agosto no Brasil. Para incentivar outros a seguirem seu caminho, ele criou a escola de mentoria Animation Flow: “Quero compartilhar conhecimento”.

O sucesso da Birdo

Para Alex, a maior diferença entre o mercado no exterior e no Brasil é o orçamento. Nos EUA, um projeto pode custar até US$ 100 milhões. O mais grandioso criado por aqui, “Lino”, de Rafael Ribas, em 2017, saiu por menos de US$ 3 milhões. Essa dinâmica estimula as parcerias com o exterior: a produtora Birdo, criado por Luciana Eguti e Paulo Muppet em 2005, é um exemplo bem sucedido de talento aliado à visão global do mercado. Envolvidos em projetos que vão da série infantil “Clube da Anittinha” à premiada “Cupcake and Dino”, produção brasileira-canadense apontada pelo “The New York Times” como uma das melhores animações de 2018, a Birdo se apresenta com um centro de talentos, um “hub para pessoas criativas de todo o mundo”.

PARCERIAS Luciana Eguti e Paulo Muppet, da Birdo: personagens como “Ninjin” (abaixo) atraíram produtoras
do exterior (Crédito:Marcos Bacon)

Esse modelo versátil favorece a colaboração com outros países – sem sair de São Paulo. “No caso da série “Oswaldo”, sucesso no Cartoon Network e TV Cultura, a criação foi feita no Brasil e a mão de obra contou com o apoio da Symbiosys, da Índia”, explica Luciana Eguti. Mas o contrário também acontece: em “Star Wars: Forces of Destiny”, da Ghostbot/Lucasfilm, e “Mobsquad”, da MTV Asia, a Birdo trabalhou com conteúdo criado no exterior. Segundo Paulo Muppet, a carreira internacional começou com a prestação de serviços curtos, mas o portfólio da produtora hoje fala por si mesmo. “Ficamos conhecidos em todo o mundo pela criação dos mascotes da Olimpíada do Rio, Vinicius & Tom”, diz Paulo. O sucesso desses brasileiros no exterior poderia virar enredo e inspirar uma bela animação — mas aí já é uma outra história.

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