20/04/2022 - 13:55
Um ícone do cartum e dos quadrinhos no País, Angeli, com 65 anos de idade, está encerrando sua carreira. O cartunista foi diagnosticado com afasia, doença neurodegenerativa que com sua evolução impacta na comunicação, verbal e escrita. A notícia foi publicada nesta quarta-feira, 20, pelo jornal Folha de S.Paulo, do qual Angeli se aposenta, e confirmada pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O perfil oficial de Angeli nas redes sociais, o Galeria Angeli, divulgou um comunicado relatando motivos de saúde para divulgar sua aposentadoria. “Seguiremos celebrando a obra de Angeli em novas publicações e exposições”, diz o comunicado da Galeria Angeli.
Os 50 anos da obra de Angeli deverão ser celebrados em uma publicação da editora Companhia das Letras, prevista ainda para este ano, comandada por sua mulher, Carolina Guaycuru, e André Coti.
A ideia é agregar cerca de mil trabalhos, com as tirinhas publicadas em jornais e revistas, além das charges e ilustrações, em dois volumes.
Os personagens
O cartunista marcou uma geração com a turma do Chiclete com Banana. O verde Bob Cuspe era o verdadeiro anarquista, punk de periferia, que lascava uma boa cuspida em quem o irritava. Era fã das bandas Ramones, The Clash e Sex Pistols e virou animação em Bob Cuspe – Nós não gostamos de gente.
Os Skrotinhos eram os baixinhos mais sem trava na língua da turma e não perdoavam ninguém em suas piadas, fazendo parte do politicamente incorreto.
E a dupla Wood & Stock não era menos divertida ao fazer alusão aos hippies dos anos 60, perdidos no tempo.
Ainda tinha o machão Bibelô e a dupla política Meia Oito que tirava uma onda dos esquerdistas dessa geração.
De todos os personagens, ícone mesmo era a Rebordosa, com sua banheira memorável, copo de bebida na mão e um cigarro na boca. A heroína de Angeli, sempre de ressaca e envolvida em algum amor passageiro, foi criada em 1984 e se tornou uma das personagens mais populares e queridas dos quadrinhos no País. Tanto é que quando Angeli resolveu “matá-la” causou comoção entre os fãs.
“Angeli é fundamental, um sujeito que fez uma caminhada e uma trajetória únicas. Ele trouxe para a charge e para o cartum elementos dos quadrinhos, onde trabalhava personagens e cenas da vida cotidiana – urbana, principalmente”, diz Laerte. “Ele fundou uma linguagem pessoal”, completa.
Adolescente prodígio, o cartunista publicou seu primeiro desenho aos 14 anos na extinta revista Senhor. Em 1973, começaram as tirinhas da turma Chiclete com Bananal na Folha de S.Paulo.
Afasia
A doença que acomete Angeli é a mesma do ator de Hollywood, Bruce Willis, 67, que em março passado anunciou também pausa em sua trabalho por justamente a afasia afetar as habilidades cognitivas.
No caso de Angeli, ainda não se sabe o que desencadeou a doença, que pode ter como causa mais frequente os AVCs, seja hemorrágico ou isquêmico.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, a afasia também pode ocorrer depois de um traumatismo cranioencefálico (TCE), um tumor cerebral, um aneurisma, infecções cerebrais ou alguns tipos de demência.
O tratamento abre a possibilidade de diminuição dos sintomas.