“Monumento”, “bússola para o projeto europeu”, “grande política”: os líderes dos países da União Europeia (UE) homenagearam a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta sexta-feira (22), em uma cúpula em Bruxelas que deve ser sua 107ª e última após 16 anos no poder.

As cúpulas dos 27 “sem Angela são como Roma sem o Vaticano, ou Paris sem a Torre Eiffel”, declarou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

“Espero que você não se incomode com esta cerimônia por ocasião de sua última cúpula”, disse.

“Sua despedida da cena europeia nos afeta politicamente e nos enche de emoção”, continuou o ex-primeiro-ministro belga, saudando “a sabedoria” da chanceler, que fará falta para os europeus, “particularmente nos tempos difíceis”.

O discurso foi ovacionado pelos chefes de Estado e de Governo reunidos desde quinta-feira. Uma obra do jovem designer franco-holandês Maxim Duterre, evocando o edifício do Conselho que acolhe as cimeiras, foi-lhe entregue de presente, assim como ao seu colega sueco Stefan Löfven, também de partida.

Para esta última cúpula, onde a Polônia estava na berlinda por suas violações do Estado de Direito, a líder alemã foi fiel à sua linha, ao pedir o diálogo com Varsóvia.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

– “Grande vazio” –

A saída de Angela Merkel “deixará um grande vazio, porque ela é alguém que está no cargo há tanto tempo e que teve grande influência no desenvolvimento da União Europeia”, comentou o novo chanceler austríaco, Alexander Schallenberg.

“É alguém que, durante 16 anos, marcou realmente a Europa e nos ajudou, a todos os 27, a tomar as decisões certas com muita humanidade em momentos difíceis”, declarou o atual premiê belga, Alexander de Croo.

“Ela foi uma pacificadora dentro da UE. Ela foi, sem dúvida, uma grande europeia”, completou.

A chanceler é “uma grande política e foi um fator de estabilização crucial em situações muito complicadas”, elogiou o presidente lituano, Gitanas Nauseda, expressando “seu enorme respeito” por ela.

“Foi uma máquina de compromisso, ao ponto de, quando as coisas não avançavam, ainda tínhamos Angela (…) Normalmente, ela sempre encontrava algo que nos unisse e nos permitisse ir mais longe”, observou o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel, que trabalhou com ela por oito anos.

“Vou sentir sua falta. A Europa vai sentir falta dela”, disse.

Recentemente, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, ex-ministra da Defesa de Merkel, ressaltou em que medida o espírito analítico da doutora em Química foi crucial para desbloquear as, por vezes, intermináveis negociações europeias.

Nos últimos meses, os líderes da UE multiplicaram homenagens e agradecimentos à mulher que governa a Alemanha desde 2005, quase tanto tempo quanto o chanceler da Reunificação, Helmut Kohl (1982-1998).

À frente da principal potência econômica do continente, Angela Merkel foi amplamente criticada pela atitude de Berlim durante a crise da zona do euro, após o colapso financeiro global de 2008-2009, mas foi amplamente elogiada por sua resposta à crise migratória de 2015 e por se unir para uma dívida comum dos 27.

A chanceler democrata-cristã (CDU) demonstrou aptidões de gestão pragmáticas que lhe permitiram estabelecer os compromissos necessários para preservar a unidade da UE.


Espera-se que a Alemanha tenha um novo chanceler antes do Natal. Social-democratas, verdes e liberais divulgaram, na quinta-feira (21), o cronograma de negociações para a posse de Olaf Scholz (SPD) no início de dezembro.

A retirada de Angela Merkel, de 67 anos, desperta o medo de um vácuo dentro da UE, diante de projetos decisivos para sua sobrevivência: reconstrução econômica pós-covid-19, mudanças climáticas, ou mesmo a afirmação de seu papel geopolítico perante Estados Unidos e China.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias