Ângela Diniz na HBO, Marjorie Estiano revela que já sofreu violência por ser mulher

Atriz lançou série biográfica sobre socialite conhecida nos anos 1970, que teve a vida interrompida aos 32 anos de idade por um crime brutal

Divulgação: HBO Max/Laura Campanella.
Marjorie Estiano protagoniza série sobre assassinato de Ângela Diniz Foto: Divulgação: HBO Max/Laura Campanella.

O elenco de “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, da HBO, se reuniu nesta semana para lançamento da série, que conta a história da socialite Ângela Diniz, assinada nos anos 1970 pelo então namorado, Doca Street. Marjorie Estiano, que dá vida à vítima do crime na ficção, conversou com a IstoÉ Gente em uma entrevista coletiva sobre as mudanças que sofreu intimamente ao interpretar a personagem real para o seriado.

A atriz revelou que, assim como a maioria das mulheres, já sofreu algum tipo de violência e continuará sofrendo por viver em uma sociedade machista e que ainda necessita de leis para entender o que é certo e o que é errado diante da sociedade. “A Ângela era uma figura que se autorizava a se dar prazer, a se oferecer liberdade de viver, e não querer conquistar absolutamente nada, empreender absolutamente nada. A beleza de viver, a beleza da vida é viver só”, declara.

“E isso é um ensinamento muito importante para todos nós. Eu me identifico muito com essa falta, com a falta dessa autorização de prazer, de beleza, de liberdade. Para mim, a vida sempre foi muito trabalho. Trabalho, compromisso, seriedade. Então, foi uma oportunidade de me experimentar na liberdade, me experimentar na beleza, me experimentar no prazer, e isso é muito valioso. Acho que isso é um processo para a vida inteira, um exercício para a vida inteira, e essas conquistas a gente vai conseguindo com o tempo mesmo, com o exercício, e prestar atenção em como é que você está vivendo”, completa.

Ao ser questionada sobre o que mudou em sua vida intimamente após compor Ângela Diniz, a artista menciona, sem pensar duas vezes, a obrigatoriedade de levar a sério o assunto da defesa à mulher. Isso porque, embora a socialite tenha sido vítima de um crime nos anos 1970, as mulheres continuam morrendo da mesma maneira nos dias de hoje.

“É algo que me impacta diretamente, o fato de ser uma violência de gênero, eu não só já sofri em números, como vou continuar sofrendo, porque essa é uma realidade, a gente está aqui justamente tentando trabalhar numa reeducação, de uma transformação de pensamento, de sociedade, mas essas transformações são as mais lentas, a gente consegue comprovar isso de acordo com as leis, a teoria da legítima defesa da honra caiu em 2013. Então, a gente continua tendo que fazer e trazer novas leis de proteção à mulher, o que reflete para mim que a mentalidade não mudou. A gente está precisando das leis porque a gente continua sendo ameaçada”, reflete.

Emílio Dantas, que interpreta Doca na série, aproveitou para trazer o caso para a realidade atual comparando o assassino de Ângela a um possível político que hoje integraria o Congresso Nacional. “[…] É necessário a gente botar essas datas lado a lado, entender que esse Doca hoje estaria no Congresso, esse Doca hoje teria uma equipe de marketing adiante junto com ele […] E essa Ângela hoje estaria sendo muito mais massacrada na internet, na vida”, analisa.

Ângela Diniz

A série, dirigida por Andrucha Waddington, foi inspirada no podcast da Rádio Novelo “Praia dos Ossos”, que recordou em detalhes o caso intitulado no programa como o da “Pantera de Minas”. Desde as primeiras cenas da série, composta por seis episódios, Ângela se mostra uma mulher sensual, dona de si e que não aceita pouco, como ela mesma diz em diversos trechos da obra.

Sua decisão de se separar do então marido, Milton Villas Boas (Thelmo Fernandes), custou a guarda de seus três filhos [que na série são representados por Mariana, papel de Maria Volpe] e a levou a se mudar de Minas Gerais para o Rio de Janeiro. A mudança ocorreu após o assassinato do caseiro José Avelino dos Santos, vulgo Zé Pretinho, pelo milionário Arthur Vale Mendes, o Tuca (Joaquim Lopes), de quem a socialite era amante. Até hoje, as circunstâncias exatas da morte não foram totalmente esclarecidas.

A reconstituição da vida de Ângela foi feita com base na pesquisa do podcast, já que não há muitos registros da época. “Eles foram atrás do depoimento das mulheres, que não foram ouvidas há 49 anos. Por isso a existência dessas amigas na série, dessa rede de mulheres que construímos e veio do recorte do podcast Praia dos Ossos, que [explica] como essas mulheres fizeram parte da vida dela e foram importantes”, contextualiza a produtora Renata Brandão, da produtora Conspiração.