Dilatação anormal da parede dos vasos cerebrais é um problema comum e assintomático na maioria dos casos

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Há poucas semanas a atriz britânica Emilia Clarke, da série de televisão Game of Thrones, revelou que passou por duas cirurgias para remover dois aneurismas cerebrais há cerca de dez anos, quando ainda trabalhava na série. Ela contou ter sentido uma “dor excruciante” e ressaltou que é uma das poucas pessoas que conseguem sobreviver ao rompimento de um aneurisma sem nenhum tipo de sequela. Mas afinal, o que é um aneurisma? Existe alguma maneira de prevenir?

Assintomático na grande maioria dos casos, o aneurisma cerebral é uma dilatação anormal da parede de alguma artéria cerebral. Essa dilatação forma uma espécie de “bexiga” que pode ir aumentando com o passar dos anos e, por conta da pressão sanguínea, pode se romper e provocar um AVC (acidente vascular cerebral) hemorrágico. Em diversos estudos, a prevalência de aneurismas saculares detectados por radiografias ou necrópsias em pessoas sem comorbidades por volta de 50 anos é de cerca de 3% a 5%.

No momento da ruptura, o paciente apresenta dor de cabeça intensa e que se inicia de maneira súbita – diferente das dores de cabeça mais comuns, onde a dor aumenta gradativamente. Segundo Gisele Sampaio Silva, neurologista e pesquisadora clínica do Hospital Israelita Albert Einstein, quando o aneurisma se rompe a taxa de mortalidade gira em torno de 30% a 40% dos casos. Entre os pacientes que sobrevivem ao rompimento, cerca de metade terão sequelas importantes – por isso a atriz Emília Clarke é um caso tão significativo.

“A mortalidade vem caindo com o passar dos anos com a evolução dos tratamentos nas UTIs neurológicas. Ainda assim é bastante alta e sabemos que metade dos pacientes ficarão com sequelas tanto motoras quanto cognitivas, o que tem um impacto direto na qualidade de vida desses pacientes”, afirma a neurologista.

Como identificar?

Segundo Gisele, estima-se que de 3% a 5% das pessoas tenham um aneurisma – mas isso não significa que ele vai crescer e se romper. Com o avanço dos exames de imagem (como ressonância magnética e tomografia), Gisele explica que ficou mais fácil de identificar casos e a grande dificuldade dos médicos é saber qual desses casos devem ser tratados porque de fato apresentam um risco.

“O aneurisma por si só não é incomum. A frequência de casos é de cerca de 3% a 5% da população, mas usualmente o risco de ruptura é baixo. E esse é o grande dilema. Não há indicação de rastreio da presença de aneurisma em todos, sem que haja uma situação específica. Muitos desses aneurismas provavelmente nem seriam descobertos”, ressalta a médica, que destaca que muitos aneurismas são diagnosticados de forma indireta, quando o paciente está pesquisando sintomas como dor de cabeça que muitas vezes tem como causas cefaleias primárias como a enxaqueca, por exemplo. “E quando isso acontece, em geral, o aneurisma não tem relação nenhuma com a enxaqueca”, frisou a neurologista.

Gisele explicou que os neurologistas trabalham com scores de risco para identificar quais pacientes devem ser tratados. Entre os principais critérios estão: a localização do aneurisma, o tamanho dele, a idade da pessoa, se ela tem alguma história prévia de hemorragia, se é hipertensa ou tabagista. “Se a pessoa for hipertensa, por exemplo, a chance de o aneurisma romper é maior. Se for fumante, também, pois o cigarro atua danificando a parede dos vasos”, disse.

Como é o tratamento?

Se o paciente que descobrir o aneurisma incidental (que não rompeu) não tiver nenhum desses fatores de risco, a recomendação usualmente é monitorar o aneurisma para ver se ele vai aumentar de tamanho. “Nesses casos, o risco de romper é de menos de 0,5%” em cinco anos, diz Gisele.

Para os pacientes que têm indicação de tratamento, existem duas possibilidades: a neurocirurgia aberta, em que o saquinho do aneurisma é ‘clipado’ para que não circule mais sangue naquela região ou o tratamento endovascular, em que pequenas molas ou até stents podem ser utilizados para excluir o aneurisma da circulação cerebral, também evitando que o sangue chegue no local.

“Os tratamentos para aneurismas não-rotos [que não romperam] são seguros. Quando há ruptura, o sangue extravasado torna o procedimento mais complexo e com mais risco de sequelas, afirmou.

Não existe forma de prevenir que o aneurisma se forme, mas é possível reduzir o risco que ele cresça controlando os fatores de risco, especialmente a hipertensão e deixando de fumar.

Fonte: Agência Einstein

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