Embora tenha falecido há mais de três décadas, Andy Warhol continua no topo dos artistas mais queridos do mundo. Ele é uma unanimidade entre públicos de diferentes idades e considerado um gênio pop pela modernidade de sua obra, que inclui pinturas, objetos e filmes. Warhol moldou a arte das décadas de 60 e 70 e seu estilo continuará influenciando as próximas gerações.

Escolhi Warhol para a coluna de hoje por sua irreverência e pela coragem que sempre teve para romper barreiras. Dizia que suas ideias poderiam um dia ajudar as pessoas a verem um mundo sob um novo olhar e a resolverem seus próprios problemas.

Encontrei na prateleira de casa o livro The Philosophy of Andy Warhol, uma verdadeira bíblia com dicas e reflexões sobre arte, amor, sexo, beleza, fama, comida, trabalho, dinheiro e sucesso. O livro é perfeito para tempos de quarentena que temos. Tem uma parte na obra que ele diz: “I wake up and call B. B is anybody who helps me kill time. I need B because I can’t be alone, except when I sleep” (Eu acordo e ligo para B. B é qualquer pessoa que me ajude a matar o tempo. Eu preciso de B porque não posso ficar sozinho, exceto quando durmo). Mais atual, impossível! Risos.

Andy Warhol adorava uma festa e se divertia como poucos. Sobre amor, dizia que para se apaixonar, bastava fechar os olhos, sem olhar. Sobre dinheiro, comentava que sempre era bom ser abstrato quando se trata de economia. Sobre ricos, mencionava que eles tinham muitas vantagens sobre os pobres como saber falar e comer ao mesmo tempo. Sobre intimidade, comentava que preferia conhecer profundamente alguém ao comprar uma cueca e que isso era mais profundo do que ler um livro de ideias dessa pessoa.

Assusta ver que Andy Warhol nasceu em 1928, um ano que parece tão distante, mas com uma trajetória artística tão moderna e atual. Sem saber o que passaríamos em 2020, ele escreveu quase uma profecia: “se tivesse tempo para umas férias, provavelmente não iria a lugar nenhum. Eu iria para o meu quarto, afofar o travesseiro, ligar a TV e abrir uma caixa de biscoitos”.

Não aguento mais Lives, seminários e encontros por Zoom nesses tempos de pandemia. Portanto, Warhol tem me feito rir com suas dicas analógicas e me ensinado que não preciso sair de casa para me divertir. Com ele, a vida fica mais leve. Suas dicas filosóficas são sensacionais. Relata o prazer e a sensação de riqueza que um travesseiro pode gerar no banho, a satisfação de escrever cartas para pessoas que admiramos, a loucura que se pode testar ao tingir uma sobrancelha de cada cor, as sensações que podem ser exploradas com o olfato, a experiência que se pode ter com o consumo de comidas extravagantes e pequenos prazerem que ajudam a aproveitar melhor os momentos da vida –porque ela pode acabar logo.

Na década de 1950, Warhol era artista gráfico comercial e começou a ficar fascinado por imagens e produtos produzidos em massa. A publicidade, as embalagens e as coisas tiradas da superfície da vida cotidiana tornaram a sua marca e o propósito de seu trabalho criativo. Zombava da sociedade consumista e nós nos tornamos somos cúmplices desse pensamento. Ele ignorava a opinião dos outros e se considerava ‘a própria arte’. Dizia que tudo o que produzia estava relacionado à morte, inclusive os retratos comemorativos de Marilyn Monroe, Muhammad Ali e Elvis Presley. Aos 53 anos, falava que estava velho. No entanto, Warhol sempre esteve à frente de seu tempo.

O mundo das artes, que muitas vezes é cruel nas escolhas, não o recebeu de braços abertos, mas ele não desistiu de posicionar seu nome no estrelato e na lista dos 1% que conseguem ser artistas consagrados mundialmente. Ele conseguiu mudar o destino, abandonando o passado pobre sem acesso a comida e a marcas famosas, além de deixar para  trás sua historia de filho de imigrantes eslovacos que trabalhavam em Pittsburgh com aço. Seu estúdio, batizado de Factory, era o oposto dessa época de miséria. Estava sempre bem frequentado por artistas como Salvador Dalí, Bob Dylan, Grace Jones e David Bowie.

Com a crença que “qualquer coisa pode ser arte, para qualquer pessoa e sobre qualquer coisa”, criou um estilo único, marcante e inconfundível. Andy usou sua herança humilde como uma medalha de honra e escondeu seu passado de sofrimento debaixo do tapete. Pensava só no futuro e não dava importância para quem não gostava da sua opção sexual. Tentava sempre manter seu trabalho artístico como universal e igualitário. Ele mesmo tinha essa dualidade: embora tivesse a reputação de ser analfabeto, era capaz de recitar Shakespeare e gostar de ópera. Além de trabalhar como artista plástico, Warhol também atuou como cineasta, com filmes como Milk (1966), The Andy Warhol Story (1967), Bike Boy (1967), Tub Girl (1967), I’ a Man (1967), Lonesome Cowboys (1968), Flesh (1968), Blue Movie (1969), Trash (1969), Heat (1972) e Blood of Dracula (1974). Era irreverente até no jeito de vestir: misturava jeans com paletó. “Pense rico. Pareça pobre”, dizia.

Reprodução

 

Entre as obras icônicas de Andy Warhol estão:

1 – Marilyn Monroe – A estrela do cinema de Hollywood faleceu em agosto de 1962. Semanas após a sua morte, Warhol criou a sua obra mais consagrada para homenagear à diva. A mesma imagem de Marilyn recebeu diferentes experimentações, sempre com cores vivas.

2- Mao Tsé-Tung – Após uma viagem do presidente americano Richard Nixon à China, Warhol começou a se interessar pela história do ex-presidente chinês Mao Tsé-Tung. A pintura do líder asiático tornou-se sua mais célebre caricatura, mesmo estando com roupa colorida e maquiado, com batom e sobra.

3 – Banana – A banana amarela foi usada na capa no álbum da banda The Velvet Underground, banda que chegou a ser empresário. O disco é um dos maiores álbuns da história do rock, segundo a revista Rolling Stones.

4 – Mickey Mouse – Em 1981, Andy Warhol produziu a série que chamou de Myths com personagens populares da cultura ocidental, como o desenho da Disney. Os trabalhos têm pó de diamante para brilhar.

5 – Coca Cola – Renato Russo já dizia em sua música que a geração era Coca-Cola, mas o refrigerante ganhou destaque no mundo das antes muito anos disso, quando Warhol pintou a bebida.

6- Autorretratos – Warhol fez uma série de autorretratos ao longo da vida. No conjunto de imagens fica claro as marcas da idade e o envelhecimento do artista.

7- Campbell’s Soup Cans – 32 telas formam a obra. As sopas Campbell tornam-se um ícone da cultura pop no momento que são registradas por Warhol, que trata a questão do consumo, da ascensão social e da publicidade.

8 -Eight Elvises – O cantor Elvis Presley é representado nessa obra por oito imagens em sequência. Foi vendida por 100 milhões de dólares em 2008, tornando-se a pintura mais valorizada do artista.

Aos 40 anos (1968), foi vítima de um atentado e faleceu em 1987, aos 58 anos, após uma cirurgia na vesícula biliar. Seu legado permanece vivo no The Andy Warhol Museum, o maior museu americano dedicado a um único artista. Está localizado em Pittsburgh e seus sete andares reúnem um importante acervo do artista. Agora, com o maior controle em relação ao Covid-19, suas exposições também estão sendo retomadas ao redor do mundo para manter viva a ideia de que pop arte é para todos. É muito bom ver que sua obra continua viva e sendo analisada com novos olhares, capazes de entender suas experiências, aspirações e desejos. Andy Warhol, sem dúvida, foi muito mais do que um simples produtor de silkscreen.

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