Com seu estilo franco e direto de sempre, Andrés Sanchez participou de um painel na feira Brasil Futebol Expo nesta terça-feira (6). O ex-presidente do Corinthians tocou em temas sensíveis no futebol como a questão fiscal, a possibilidade de uma SAF no alvinegro paulista e falou da dificuldade de administrar um clube de futebol.
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Outro assunto importante levantado pelo ex-mandatário do Corinthians foi o roubo de dinheiro nos clubes. Apesar da gravidade, Sanchez considera que a prática vai além do ambiente do futebol.
“Tem empresa por aí afora, tudo muito profissional, empresarial, e todo mês alguém é demitido porque estava roubando. O Corinthians mesmo tem 700 funcionários, alguém vai roubar. É da cultura do país e é assim que funciona”, afirmou o ex-presidente ao comentar sobre SAF no futebol brasileiro.
Ao lado do presidente São Paulo, Julio Casares, do Santos, Andrés Rueda, e o diretor executivo do Red Bull Bragantino, Thiago Scuro, Andrés citou que o modelo da SAF não daria certo no Corinthians. Segundo ele, a “pressão é outro e isso interfere”.
Ainda na questão da gestão de um clube, Andrés tentou justificar o aumento considerável da dívida do Corinthians durante seu último mandato como presidente.
“O compliance quem tem que fazer sou eu, o presidente do clube. Aquelas auditorias, o raio que o parta, quer receber R$ 1 milhão por mês. Aí você pega o balanço do Corinthians hoje, e todo mundo fala que não pode contratar um jogador, porque tem R$ 1 bilhão de dívida, a situação é ruim e não pode contratar ninguém. Aí, se o time vai mal, a mesma pessoa diz que precisa contratar porque o Corinthians está ruim”, desabafou o ex-presidente corintiano.
Sanchez ainda questionou a isenção fiscal por parte de entidades religiosas. O ex-presidente entende que assim como as igrejas, os clubes de futebol também são organizações sem fins lucrativos, mas no último caso existe a cobrança de impostos.
“As igrejas rezam pai-nosso, vale para todas as religiões, e não pagam um centavo de imposto. Não paga. Qual a diferença do clube de futebol para a igreja? Mas não pode tocar na igreja, senão, meu amigo…”, comparou Andrés.
Outras respostas de Andrés:
Dívida do Corinthians
“Futebol é sem fins lucrativos, gente. O Corinthians tem que estar devendo sempre. Se tiver R$ 100 milhões na conta, vai gastar na bocha, na natação, na peteca, tudo aquilo. Fora os associativos, que tem campeonato associativo.”
Contratações que fez
“O jogador ganha R$ 1,5 milhão na carteira, aí vai embora e entra na Justiça por equiparação salarial, adicional noturno e tudo. O Corinthians contrata jogador… até hoje eu ouço nomes, Luan, Defederico, as p… que pariu. Você acha que é o diretor ou o presidente do clube é que quer contratar? É a p… do treinador! Quando o presidente contrata alguém que o técnico não quer, na primeira derrota ele diz que contratou alguém que ele não queria.”
SAF
“Fazer no Bragantino é uma coisa, mas no Santos, no São Paulo e no Corinthians é outra. Sou consultor do Cruzeiro e falo para o Ronaldo: a vida está boa hoje, quero ver no ano que vem, porque a cobrança é outra. Ele é o dono; se não põe dinheiro, não pode nem sair na rua em Belo Horizonte.”
“Sou a favor que o clube também possa fazer recuperação judicial. Não sou contra a SAF, mas a SAF tem dez anos para pagar as dívidas. No Corinthians tem processo há 18 anos, e o cara não recebeu até hoje. Se tivesse recuperação judicial, ele receberia. O Corinthians ficou sete anos sem receber um centavo com bilheteria, e a conta um dia chega, e chegou. Tem que pagar o estádio, o CT, tudo isso. O único lugar em que cai dinheiro do céu é na igreja, em outros lugares não.”
Criação da Liga
“O grande problema de a Liga sair hoje é a vaidade de quem quer ser protagonista. Quem vai botar a empresa que manda. A Liga vai sair, mas vai ter problemas jurídicos, porque nossas leis não são as mesmas da Europa. Precisamos de uma lei à parte para cuidar do futebol. Não é só montar a Liga, o problema é muito maior. E não sou eu que vou presidir a Liga, tem que ser um cara de mercado.”
Preços altos no futebol
“Eu entendo que nem toda população tem condições de ir em todos os jogos, mas os jogadores estão mais caros, está tudo mais caro. O Corinthians é com a Nike, porque com as outras as camisas acabam, e aí ficariam reclamando ‘acabou a camisa!’. Uma camisa na Europa é 100 euros, e o cara recebe 2,5 mil euros; aqui são R$ 400 e o torcedor recebe R$ 1,2 mil. É difícil, eu entendo isso, mas é o país em que vivemos.”
Fim do clube dos 13
“Eu não sou mais presidente, então posso por uma pimenta. Fui eu o responsável por acabar com o Clube dos 13, porque o presidente ganhava R$ 90 mil por mês, tinha dois cartões corporativos, queria negociar cota de TV a cada dois anos. Todo mundo dizia que era voluntário, mas ganhava R$ 60 mil por mês. Arrebentei com o Clube dos 13, e todo mundo ganhou mais [dinheiro], não foi só o Corinthians.”