Anda chato ler jornal

Anda chato ler jornal

Jorge Forbes Do site Vida Boa Está duro de aguentar o que se publica na grande imprensa, seja nos jornais ou nas revistas semanais. Ficam achando que a internet vai acabar com a imprensa escrita, vai não, se ela acabar, é pela chatice de alguns enfoques. Senão vejamos alguns exemplos recentes. Um pobre diabo de um francês, meio galanteador barato, que ocorre ser ex-presidente do FMI e candidato a substituir o marido da Carla Grávida Bruni, na presidência da França, parece que se exasperou em eflúvios apaixonados por uma arrumadora de seu quarto de hotel em Nova Iorque. Pronto, foi o suficiente para uma série de interpretadores profissionais se autorizar a dizer tudo e mais um pouco sobre o que se passaria na cabeça desse ?Alain Delon depois do desastre?. E toca a conjecturar sobre a sua infância, sobre relações de poder e cama, sobre seu passado de má lembrança e futuro aterrorizante, e tudo isso sem a menor cerimônia, como se Freud e Lacan autorizassem como verdade as fantasias pessoais desses comentadores, que, por sua vez, fantasiam sobre as fantasias do prisioneiro de muitos milhões de dólares. Quanto desperdício analítico! Pena não aproveitar para estudar o choque de moralidades que esse fato proporciona, culminando na ministra, igualmente francesa, ávida pelo cargo recém desocupado, que deixa sorrateiramente seus eleitores pensarem que com ela o negócio é seguro, porque mulher não tem vocação para ser tarada. Pano rápido. Enquanto isso, nessas plagas, ficamos de novo gastando tinta com o ministro de sempre. Nada mudou, é ele aí outra vez, com seus partidários e seus banqueiros, sua cara de monge medieval, daquele que guarda o segredo das escrituras sagradas das histórias dos enriquecimentos. Quem vai atirar pedra na santidade? Para que argumentar o óbvio, comparar pela enésima vez com o triste fim do caseiro que ousou levantar a cortina da sacristia e por isso foi para o inferno? Interessante é examinar que o país pode ir bem apesar desses personagens, como indica o profundo menosprezo que a juventude dá ao que se passa nas capitais. Seus pais pensam que os filhos são um bando de alienados. Nada disso. Os meninos de hoje, verdadeiros mutantes, apontam a novas formas de fazer política e de governança, deixando as velhas carcaças aos urubus que com eles há muito convivem em mútuo merecimento. Serão todos sepultados sob as flores do cerrado, é só aguardar mais um pouquinho. Leia o artigo na íntegra. Jorge Forbes é psicanalista e médico psiquiatra, é mestre e doutor em Psicanálise pela Universidade de Paris VIII e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, respectivamente. É um dos principais introdutores do pensamento de Jacques Lacan no Brasil, de quem frequentou os seminários em Paris, de 1976 a 1981. Teve participação fundamental na criação da Escola Brasileira de Psicanálise, da qual foi o primeiro diretor-geral. Preside o IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana e o Projeto Análise. Dirige a Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano – USP. Tem vários artigos publicados no Brasil e no Exterior e é autor, dentre outros livros, de Você Quer o Que Deseja?.