O Exército turco bombardeou, nesta quinta-feira (19), milícias curdas sírias, consideradas “organizações terroristas”, apesar de contarem com o apoio de Washington na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI).

Citando um comunicado do Exército, a agência de notícias oficial Anadolu afirmou que entre 160 e 200 membros das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), braço armado do partido curdo sírio PYD, foram abatidos em 26 bombardeios cometidos na madrugada desta quinta-feira na região de Aleppo (norte da Síria). Esse número não foi confirmado por fontes independentes.

O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) fala em 11 mortos e 24 feridos nesses ataques.

Segundo o OSDH, atacaram zonas arrebatadas do EI nos últimos dias pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), uma coalizão curdo-árabe apoiada pelos Estados Unidos.

“Terroristas” para Ancara, sócios eficazes na luta contra o EI para Washington: o caso das milícias curdas na Síria afeta há meses as relações entre Turquia e Estados Unidos, dois pilares da coalizão antiextremista e da Organização do Tratado do Atlântico do Norte (Otan).

Os bombardeios turcos, os mais intensos desde o início da intervenção de Ancara no norte da Síria, em agosto passado, coincidiram com as negociações sobre as modalidades de uma eventual ofensiva contra a cidade de Raqa, bastião sírio do EI.

A Turquia, que teme que se constitua uma região autônoma curda no norte da Síria e sua fronteira, opõe-se à participação das milícias curdas nesse tipo de operação.

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Ash Carter, visita a Turquia nesta sexta-feira (21). Ele se reúne com os dirigentes turcos para tratar dos últimos acontecimentos ocorridos na Síria e no Iraque, onde se encontra em andamento uma ofensiva de envergadura para expulsar o EI de Mossul, seu bastião iraquiano.

‘Agressão flagrante’

O governo turco considera o PYD e as YPG como organizações estreitamente vinculadas ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que dirige uma sangrenta rebelião em território turco há mais de 30 anos.

Vários edifícios, depósitos de armas e veículos usados pelas YPG foram destruídos nos bombardeios turcos, segundo a Anadolu.

Os obuses disparados da Síria atingiram zonas desabitadas da Turquia nesta quinta-feira de manhã, informou a agência. A artilharia turca respondeu bombardeando posições das YPG do outro lado da fronteira.

Em um comunicado, a administração semiautônoma curda na Síria denunciou uma “agressão flagrante” de Ancara e pediu à comunidade internacional que “pressione diretamente a Turquia para que interrompa seus ataques”.

O representante em Paris dessa administração semiautônoma, Khaled Issa, acusou Ancara de buscar, por meio desses bombardeios, “impedir, ou perturbar, os preparativos das FDS para a libertação de Raqa”.

No mês passado, Ancara lançou uma operação terrestre no norte da Síria. Envio para lá carros e militares para apoiar a oposição síria, a qual expulsou o EI de várias posições, incluindo a localidade de Dabiq, um território simbólico para os extremistas.

Chamada de “Escudo do Eufrates”, a operação tenta expulsar o EI da fronteira turco-síria, um objetivo cumprido, segundo Ancara, mas também impedir a união territorial das zonas controladas pelas milícias curdas no norte da Síria.

Na quarta-feira, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, advertiu que a Turquia estava disposta a agir sozinha, inclusive fora de suas fronteiras, para acabar com a ameaça “terrorista”.

A Turquia “não vai esperar mais que os problemas batam na porta […]. A partir de agora, iremos diretamente contra as organizações terroristas, onde quer que estejam”, declarou o chefe de Estado turco.